Entrevista - Andreas Pohlmann
Risco de corrupção é maior em alguns setores no mundo
especialista em compliance diz que as leis anticorrupção estão fechando o cerco e grandes companhias precisam se adaptar
Para o advogado alemão Andreas Pohlmann, um dos maiores especialistas em compliance (respeito à legislação) do mundo, a corrupção no Brasil não é resultado de um traço cultural do país, mas da concentração em setores como petróleo e gás, mineração e engenharia e construção para a economia.
"Essas indústrias precisam ser olhadas com atenção em qualquer parte do mundo."
Segundo Pohlmann, que passou por companhias como a alemã Siemens, o cerco contra grandes companhias que praticam malfeitos está se fechando. "Não há escapatória", diz. Pohlmann, que abre nesta terça seminário sobre ética e sustentabilidade empresariais em São Paulo, integra um comitê montado na Petrobras para supervisionar investigações internas de corrupção.
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Folha - Por que é difícil para grandes empresas criarem áreas para inibir a corrupção?
Andreas Pohlmann - Não é difícil. Hoje, mais países, como o Brasil, estão evoluindo em regulações.
As empresas estão sendo forçadas a se adequar?
As companhias estão entendendo o risco de não tomarem os passos corretos. Vimos isso na Alemanha, nos EUA e agora no Brasil.
No Brasil, vimos empresas que, mesmo envolvidas na Lava Jato, não se dispuseram a fazer investigações internas.
Pela minha experiência, está claro que, diante de denúncias, é preciso investigar e tentar chegar ao fundo de tudo para que não ocorra novamente. Não há outro jeito.
Por que há empresas que ainda resistem em investigar?
Muitas não veem o lado negativo de deixar de fazê-lo. Há um prejuízo grande para a imagem e para a credibilidade financeira. Os contratos ficam em risco, porque as pessoas não querem trabalhar com você. Há multas potenciais. Isso gera uma atmosfera de falta de confiança que impede as empresas de serem bem-sucedidas.
Delatores da Lava Jato afirmaram que o pagamento de propina era a "regra do jogo". Esse é de fato um problema real para as empresas?
São argumentos muito usados: "Fiz no interesse da companhia", "não coloquei dinheiro no meu bolso", "tivemos de fazer para sermos bem-sucedidos", "todos fazem" ou ainda "é simplesmente parte da cultura". Vemos isso em muitas corporações, não só no Brasil. A verdade, porém, é: "Queria ser promovido" e "queria pegar meu bônus".
Algumas companhias enxergam compliance como uma desvantagem competitiva. Não é. Há exemplos para provar como corrupção não é base para um negócio sustentável. Vi muitas empresas falharem porque não tomaram medidas de prevenção.
O "faz parte da cultura" é uma falácia. Não há um país no planeta onde a corrupção seja permitida. Há uma tendência de convergência nas regulações anticorrupção. Mais recentemente até mesmo o Brasil fez sua lei. As empresas têm de entender que não há mais escapatória.
O ambiente de negócios no Brasil favorece a corrupção?
O problema de corrupção do Brasil se relaciona com as indústrias que se desenvolveram no país. Mineração, petróleo e gás, construção e engenharia são de alto risco [para a ocorrência de corrupção]. Essas indústrias são alvo de investigação em qualquer parte do mundo. Não é muito o país em que você está, mas o setor. O que os países têm de fazer é elevar os padrões e garantir que as empresas sejam responsabilizadas.
A Petrobras está no centro de um dos maiores escândalos de corrupção já vistos. É um trabalho mais desafiador do que os anteriores para o sr.?
Não posso falar especificamente sobre Petrobras. Posso dizer que já vi muitas crises corporativas, elas sempre são diferentes por causa da cultura e do tipo de indústria.
ETHOS 360°
QUANDO 22 e 23 de setembro
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