Petrobras reajusta preço da gasolina em 6%
Diesel sobe 4% nas refinarias a partir de hoje; alta do dólar tem agravado problemas de caixa da estatal
Reajuste é sinalização ao mercado de que a administração de Aldemir Bendine tem autonomia
A Petrobras decidiu reajustar em 6% o preço da gasolina e em 4% o preço do diesel nas refinarias. O aumento passou a vigorar a partir desta quarta-feira (30).
A decisão foi tomada pela companhia na noite desta terça-feira (29) diante dos problemas de caixa da empresa após a forte alta do dólar nos últimos dias –em setembro a moeda americana se valorizou em 13% ante o real.
O reajuste é uma sinalização ao mercado de que a empresa, que passou a ser comanda por Aldemir Bendine em fevereiro, tem autonomia para definir sua política de preços dos combustíveis.
"A empresa tem independência na sua política de preços e assim será", disse o executivo à Folha em julho.
Integrantes do governo disseram à Folha que o próprio Palácio do Planalto considerou inevitável o reajuste dos combustíveis em razão das dificuldades financeiras da empresa, fortemente impactada pela disparada recente do dólar, o que ampliou os já elevados níveis de endividamento da companhia.
A nova alta dos combustíveis também deve ser um novo desafio para o Banco Central cumprir a sua meta de inflação (4,5% neste ano em 2016, com tolerância de dois pontos percentuais), já que a mudança de preço se reflete em uma série de itens, como transporte público e transporte de carga.
O preço nas bombas é livre e costuma ser reajustado à medida que o combustível com preço novo chegue aos postos. Em geral, segundo sindicato dos postos de combustíveis, os últimos aumentos de preço para o consumidor têm sido um pouco menor que o das refinarias.
O reajuste anterior da gasolina havia acontecido em novembro, 11 dias após o segundo turno da eleição que garantiu o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Na ocasião, houve um aumento de 3% no preço da gasolina e de 5% no do diesel nas refinarias.
Em anos anteriores, o governo (principal acionista da empresa) havia resistido a liberar o aumento, pelo seu impacto na inflação.
Desta vez, porém, o endividamento da Petrobras (que já perdeu o grau de investimento de duas das maiores agências de classificação de risco, Moody's e S&P) está crítico e vem sendo pressionado pela alta do dólar, já que parte dela (73%) está atrelada à moeda norte-americana.
Segundo dados do primeiro semestre (os mais recentes), a estatal tem uma dívida de US$ 140 bilhões. Desde então, o dólar à vista se valorizou em 32%.
Outro problema para a companhia é que a valorização da moeda americana fez com que a estatal passasse a ter nas últimas semanas prejuízo na venda da gasolina –vende o combustível mais barato no país do que a cotação internacional.
Estimativa do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura) mostra que essa defasagem era de 5,8% no dia 23.
Essas dificuldades, além do escândalo de corrupção descoberto pela Operação Lava Jato, contribuíram para as ações da estatal perderem um terço do valor neste ano.