Emergentes devem ter primeira saída de capital em 27 anos
Indecisão sobre juros nos EUA e problemas internos desses países são maiores preocupações de investidores
Saída líquida dos mercados emergentes será de US$ 540 bi neste ano, prevê entidade que reúne grandes bancos
Os mercados emergentes devem registrar saída líquida de capital neste ano pela primeira vez desde os anos 80, dada a piora de suas perspectivas econômicas e os preparativos do Fed, (banco central dos EUA) para elevar a taxa de juros norte-americana.
Essa projeção, do IIF (Instituto de Finanças Internacionais, que reúne grandes bancos globais), aumentará ainda mais a preocupação sobre as perspectivas de grandes economias emergentes como a China e o Brasil.
Pelas estimativas da entidade, haverá uma saída líquida de capitais dos mercados emergentes da ordem de US$ 540 bilhões neste ano, a primeira vez que isso acontece desde 1988. No ano passado, houve um influxo líquido de US$ 32 bilhões.
A perspectiva de um aumento de juros pelo Fed vem apavorando os mercados financeiros o ano inteiro. Um fator que agrava a preocupação é a incerteza quanto ao momento em que o Fed começará a apertar a política monetária. Na reunião mais recente, de setembro, o BC dos EUA optou por não agir, em parte devido à turbulência nos mercados mundiais.
Porém, não é só a política do BC dos EUA que preocupa, a condição interna dos mercados emergentes é outro motivo de temor.
"Há crescente preocupação sobre a desaceleração no crescimento dos mercados emergentes, amplificada por crescentes preocupações quanto à China, além do Fed", afirmou Charles Collyns, economista-chefe do IIF. "Os fatores que restringem influxos serão persistentes, o que prenuncia uma seca prolongada, e não um alívio rápido."
ENDIVIDAMENTO
O instituto estima que a saída de capital privado dos mercados emergentes superará o US$ 1 trilhão neste ano.
Collyns disse que a maior causa isolada de saída de capital era o pagamento de empréstimos tomados em moeda estrangeira por companhias de mercados emergentes, especialmente da China.
O instituto estima que o endividamento de empresas não financeiras em mercados emergentes tenha crescido mais de 500% nos últimos dez anos, para US$ 24 trilhões.
"A velocidade com que essa dívida foi acumulada é espantosa", diz Hun Tran, diretor-executivo do Instituto de Finanças Internacionais.
"Todas as pesquisas mostram que a velocidade com que uma dívida é criada tem papel-chave na qualidade dessa dívida e na crise subsequente", afirmou o dirigente.
Fortes desvalorizações em muitas moedas de mercados emergentes, neste ano, tornaram muito mais difícil para as empresas endividadas desses mercados manter em dia suas dívidas internacionais, ainda que isso tenha sido mitigado no caso de alguns exportadores que faturam em moeda estrangeira.
O instituto estima que a desvalorização cambial tenha elevado as dívidas empresariais do Brasil por um montante equivalente a 7,3% doPIB do país e na Turquia ao equivalente a 6,2% do PIB, por exemplo.
O FMI alertou nesta semana que a alta nos juros dos EUA e a disparada do dólar podem expor descompassos cambiais e causar calotes empresariais, como resultado das pesadas dívidas acumuladas pelas companhias dos mercados emergentes.
Yellen, do Fed, afirmou na semana passada que é provável que o aumento dos juros americanos comece ainda neste ano.