Júri dos EUA rejeita indiciar policial que matou jovem negro
Jurados não veem motivos para processar oficial; família de Michael Brown chama veredicto de decepcionante
Após decisão, carros e lojas foram quebrados por manifestantes em Ferguson; Obama pediu calma em protestos
O grande júri de Saint Louis decidiu não indiciar o policial Darren Wilson, 28, que matou com seis tiros o jovem negro Michael Brown, 18, diante de uma loja de conveniência em Ferguson, Estado do Missouri, em 9 de agosto. Brown estava desarmado.
Em entrevista nesta segunda (24), o promotor de Saint Louis, Robert McCulloch, disse que o júri fez uma "investigação exaustiva" e que os jurados não encontraram motivos para indiciar o policial. Ele entregaria detalhes sobre o julgamento posteriormente.
A família de Michael Brown emitiu comunicado dizendo-se "profundamente decepcionada" com a decisão. Em minutos, uma viatura policial foi atacada em Ferguson por manifestantes. Lojas também foram depredadas e a polícia reagiu com gás lacrimogêneo.
Em pronunciamento, o presidente Barack Obama disse em pronunciamento que "temos um grande desafio como nação, encarar a desconfiança entre policiais e as comunidades negras pelo legado da segregação".
Pediu à polícia de Ferguson para demonstrar "cuidado" e "contenção", e "trabalhar com a comunidade, não contra a comunidade, só assim dá para se identificar quem quer protestos pacíficos, quem não".
Citando o pai de Michael Brown, ele disse que vandalismo não é a resposta e que a decisão deve ser aceita. Porém, lembrou que persistem "diferenças em como a Justiça trata os negros, a comunidade negra não inventa isso".
A morte se tornou o caso mais famoso entre várias outras mortes de jovens negros neste ano causadas por policiais brancos. A Justiça local levou seis horas para fazer público o veredicto.
Especula-se que a demora foi provocada por receios de uma reação violenta à decisão, esperando a noite chegar para que escolas e estabelecimentos comerciais estivessem já fechados e a maioria da população em casa.
O governador de Missouri, Jay Nixon, decretou estado de emergência mesmo antes do anúncio do veredicto, com temor de protestos violentos.
O júri, na vizinha (e mais rica) cidade de Clayton, de população de maioria branca, foi formado por nove brancos e três negros. Wilson jamais falou publicamente desde a morte de Brown, mas testemunhou para os jurados.
A conduta das autoridades e da polícia de Ferguson foi criticada desde o início do caso. O corpo de Brown ficou quatro horas e meia no chão após receber os seis tiros.
A polícia demorou vários dias para divulgar a identidade do policial e o fez no mesmo dia em que divulgou um vídeo de Brown furtando a loja de conveniência, mas sem maiores explicações.
Com 70% de negros, Ferguson serviu de símbolo de divisões persistentes depois do fim da segregação racial nos EUA. Dos 53 policiais locais, apenas três são negros.