EUA condenam indiciamento de deputada opositora venezuelana
Departamento de Estado também cobrou libertação de opositores
Os EUA condenaram a decisão do Ministério Público venezuelano de indiciar a ex-deputada oposicionista María Corina Machado por suposta participação em um complô para assassinar o presidente Nicolás Maduro no início deste ano.
"Estamos profundamente preocupados com o que parece ser um esforço contínuo do governo para intimidar opositores por meio do abuso do processo legal", informou o Departamento de Estado na noite de quarta (3).
"As acusações elevam mais uma vez nossa preocupação sobre o uso arbitrário do Poder Judiciário para silenciar e punir os críticos do governo", afirmou o texto.
O comunicado cobra ainda a libertação do líder opositor Leopoldo López e de dezenas de estudantes presos após violentos protestos deflagrados em fevereiro.
Nesta quarta (4), Machado se apresentou à sede do MP, em Caracas, onde foi indiciada por "supostamente ter vínculos com o plano magnicida contra o presidente".
O comunicado é ambíguo. Menciona magnicídio, mas estipula que Machado está sendo acusada por "conspiração", termo mais vago.
"Deixando no ar o termo magnicídio, aumenta a chance de condenação severa, mesmo que a acusação formal seja por conspiração", diz Carlos Romero, professor da Faculdade de Ciências Jurídicas e Políticas da Universidade Central da Venezuela.
A ex-deputada, cassada por incentivar os protestos estudantis, nega as acusações e diz que os e-mails em que supostamente defende "aniquilar Maduro" são forjados.
Revelado em maio pelo governo, o suposto plano tinha a participação de políticos e empresários, que fugiram ao exterior, e do embaixador americano na Colômbia, Kevin Whitaker.
O governo venezuelano acusa os EUA de conspirarem para substituí-lo por um regime aliado. Em 2002, um golpe da direita venezuelana apoiado por Washington derrubou por algumas horas o então presidente Hugo Chávez, que recuperou o poder graças ao apoio popular.
Havia diversos funcionários da Embaixada dos EUA entre as dezenas de simpatizantes que se manifestavam em frente ao MP no momento em que Machado era notificada das acusações.
Um diplomata disse à Folha que estava lá para "observar se o processo legal estava sendo cumprido."