Eleição do Japão é plebiscito sobre premiê
Pesquisas indicam que população deve escolher continuidade da 'Abenomics', política econômica de Abe, no domingo
Com remoto parentesco com o que Dilma fez no Brasil, medidas tentam retomar crescimento após crise de 2008
A eleição deste domingo (15) no Japão é um plebiscito sobre a "Abenomics", a política econômica do primeiro-ministro Shinzo Abe que tem remoto parentesco com o que fez a presidente Dilma Rousseff no Brasil.
Guardada a sideral diferença entre Brasil e Japão, qualquer que seja o ângulo que se olhe, ainda assim permanece o fato de que Abe, como Dilma, optou por um PAC, um programa de investimentos que, à época do lançamento, há dois anos, previa o equivalente a R$ 436 bilhões em obras públicas.
Abe também destruiu qualquer ilusão de independência do Banco do Japão, seu Banco Central, ao determinar uma agressiva política de juros e de injeção direta de dinheiro na veia da economia.
CRESCIMENTO ANÊMICO
A "Abenomics" é filha direta do desespero dos líderes políticos para retomar um crescimento firme depois da grande crise de 2008 e 2009.
A política de Dilma também, mas Abe tinha mais motivos para desespero: nos 20 anos mais recentes, o Japão cresceu à anêmica taxa média anual de 0,9% (porcentagem aliás que se repetirá neste ano).
A nova política deu resultados inicialmente, mas, ainda como Dilma, Abe vai às eleições com notícias desanimadoras: o PIB caiu, no terceiro trimestre, 0,4% (ou 1,6% na taxa anualizada), o que levou o Japão à sua quarta recessão em seis anos.
Mas, sempre como Dilma, Abe vai ganhar a eleição, conforme indicam todas as pesquisas. E ganhar com folga, ao contrário do que ocorreu com a presidente brasileira.
Pesquisa da agência Kyodo News dá ao Partido Liberal Democrático (LPD, na sigla em inglês) de Abe 300 das 475 cadeiras da Dieta, a Câmara de Representantes.
É mais do que as 295 que o LPD colheu no pleito de 2012. Se forem somadas a elas as 31 que a pesquisa atribui ao partido budista Komeito, aliado de Abe, o novo governo fará uma cômoda maioria absoluta para implementar de fato a "Abenomics".
REFORMAS ESTRUTURAIS
Falta ao plano não só a efetiva concretização do grande pacote de investimentos previstos, mas também uma terceira "flecha" (como Abe denominou cada um dos três itens de seu programa): as reformas estruturais.
São, em parte, as mesmas reformas liberalizantes que analistas ortodoxos cobram de Dilma Rousseff.
Entre elas, a principal (e mais difícil) é a liberalização do hiperprotegido setor de agricultura.
Exatamente por prever a forte resistência às reformas é que Abe convocou, de surpresa, uma nova eleição, dois anos antes do prazo convencional.Pretende com ela, claramente, um mandato ainda mais nítido para tocar as reformas.
O eleitorado japonês se inclina a concedê-lo, em parte porque aceita, resignadamente, que não houve tempo suficiente para que a "Abenomics" sacudisse o letárgico Japão.
Ajuda Abe o fato de que o principal partido de oposição, o PDJ (Partido Democrático do Japão) ainda não se recuperou do desastre que foi a sua gestão no período de 2009 a 2012.
Há quem suspeite, em todo o caso, que não é apenas pela política econômica que Abe se lançou à busca de um mandato firme.
É o caso do pesquisador Ben Ascione (do Fórum do Leste Asiático) para quem o primeiro-ministro poderia tentar afastar-se da doutrina pacifista imposta ao Japão após perder a guerra, em 1945.
Poderia também revalorizar as usinas nucleares, abandonadas após a tragédia de Fukushima, em 2011.
Um Japão mais afirmativo internacionalmente seria um rival regional forte para uma China que se fortaleceu muito como potência regional e até internacional.