Foco
Em posse indígena, Morales chama colonização de 'filosofia de morte'
Após críticas, presidente da Bolívia paga do próprio bolso roupa usada em cerimônia
Um dia antes da posse oficial, o presidente boliviano, Evo Morales, 55, participou de cerimônia para festejar o início de seu terceiro mandato na cidade indígena de Tiahuanaco, localizada no altiplano, a 70 km de La Paz.
Com um discurso de forte teor anticapitalista e anti-imperialista, Morales chamou a cultura dos colonizadores das Américas de "filosofia de morte". Lembrou civilizações indígenas desaparecidas e disse que os que chegaram com um discurso de modernização queriam acabar "com nosso idioma, nossa música, nossa filosofia, nossa comida, nossa identidade".
Acrescentou que os indígenas não aceitaram ser tratados como se estivessem "num zoológico". "Hoje mostramos que sabemos governar até melhor que eles", afirmou.
Desde a primeira eleição, em 2006, Morales realiza cerimônia no local, capital de importante civilização pré-incaica. Desta vez, porém, recebeu críticas da oposição e de meios de comunicação em razão dos gastos com a festa.
O presidente decidiu, então, pagar do próprio bolso a roupa utilizada --uma túnica de lã de vicunha e um gorro de quatro pontas, com detalhes em ouro, que custou 27 mil bolivianos (US$ 3.800).
Após passar por um ritual de limpeza, Morales foi guiado por amautas (sábios, na cultura quéchua) por meio de um corredor formado por 600 indígenas vestidos a caráter e empunhando bandeiras da Bolívia. Visitou o monolito Bennet, estátua divina de 7,8 m que é a principal peça da cidade, a pirâmide de Akapana e o templo de Kalasasaya.
Segundo organizadores, cerca de 50 mil pessoas compareceram à cerimônia, numa manhã fria (6°C) e úmida. Muitos indígenas da região vieram caminhando ou em ônibus, nas primeiras horas da manhã. As autoridades chegaram de helicóptero.
Em discurso que começou em aimará e terminou em espanhol, Morales afirmou que continuará lutando pela saída do país ao mar. A Bolívia reclama parte do território chileno e levou a causa à Corte Internacional de Justiça. O presidente também já pediu que o papa Francisco intercedesse a favor dos bolivianos.
Para a posse, hoje, são esperados os presidentes Rafael Correa (Equador), Nicolás Maduro (Venezuela), Horacio Cartes (Paraguai) e Dilma Rousseff (Brasil), além do vice-presidente Amado Boudou (Argentina) e representantes dos governos da Rússia, dos EUA e da China.