Crescem dúvidas sobre suicídio de promotor
Pegada e digital são achadas em passagem entre apartamento de Nisman e de vizinho; porta estava aberta, diz chaveiro
Promotor morreu após acusações a presidente argentina; denúncia é 'insustentável', diz assessor da Casa Rosada
Um depoimento e novos indícios reforçaram nesta quarta (21) a hipótese de que o promotor argentino Alberto Nisman não tenha se matado --Nisman foi encontrado morto no domingo (18), quatro dias depois de denunciar a presidente Cristina Kirchner.
O chaveiro que abriu a porta do apartamento do promotor, identificado apenas como Walter, falou à encarregada da investigação e disse que a porta dos fundos não estava trancada --a chave estava posicionada do lado de dentro, mas não havia sido girada. O chaveiro abriu a porta em menos de dois minutos.
Nas casas argentinas, uma vez que a porta é fechada, mesmo que não tenha sido trancada, é impossível abri-la por fora. A mãe de Nisman, alertada pelos policiais que faziam sua segurança, tentou entrar no apartamento do filho e não conseguiu abrir a porta porque a chave estava por dentro. O chaveiro foi então chamado.
Além disso, membros da equipe de investigação encontraram uma pegada e uma impressão digital recentes na passagem entre o apartamento de Nisman e o do vizinho, onde ficam os aparelhos de ar-condicionado. Esse acesso não havia sido revelado antes pela promotora Viviana Fein, responsável pelo caso.
Ao entrar no apartamento, a mãe de Nisman o encontrou morto no banheiro, com um tiro na têmpora direita. Mais tarde, apareceu no local o secretário de Segurança argentino, Sergio Berni, que diz não ter se aproximado do corpo.
A presença dele na cena, contudo, motivou uma nova denúncia na Justiça. A ONG 'Paso a Paso Argentina' classificou a ação de Berni como "absolutamente irregular" e apresentou uma ação por acobertamento e pelo não cumprimento de seu dever de funcionário público.
Nisman acusara a presidente, o chanceler Héctor Timerman e outras pessoas ligadas ao governo de agir para acobertar os iranianos responsáveis pelo ataque a bomba que, em 1994, matou 85 pessoas na Amia, entidade judaica em Buenos Aires.
O promotor estava escalado para depor no Congresso sobre a acusação na segunda (19), horas depois da sua morte. Tanto o secretário de Segurança quanto a promotora Fein aventaram a hipótese de que ele havia se matado.
ESPIÕES
Em sua denúncia, o promotor apontou dois espiões que trabalhariam para o governo como contatos com representantes dos iranianos. Nesta quarta (21), os dois acusados, Ramón Bogado e Héctor Yrimia, pediram proteção oficial à Justiça e a obtiveram.
No entanto, o atual chefe da inteligência argentina, Oscar Parrilli, disse que nenhum dos acusados "pertence ou pertenceu" ao departamento.
Parrilli disse ainda que Bogado já fora denunciado no fim do ano passado por se fazer passar por agente do serviço de inteligência. Em entrevista a uma rádio, Yrimia disse que nunca teve relação com a secretaria de inteligência.
O secretário da Presidência argentina, Aníbal Fernández, desqualificou toda a denúncia: "É algo totalmente insustentável".
Entidades judaicas fizeram um ato na tarde de quarta (21) para pedir que a investigação do atentado à Amia prossiga, mesmo após a morte.
Ainda não há data para o velório e enterro do promotor. Um membro de uma entidade da comunidade israelita de Buenos Aires disse que, caso o corpo vá para um cemitério judaico, não será colocado na ala dos suicidas.