Iraquianos na Guiana Francesa vivem tensão
Usando o Brasil para fugir de facção radical, eles esperam decisão sobre pedido de asilo
Os 16 iraquianos que usaram o Brasil como rota para escapar do Estado Islâmico (EI) vivem um cotidiano de incerteza e dificuldades de comunicação na Guiana Francesa, enquanto esperam a concessão do asilo para chegar à Europa.
A decisão do governo francês só deverá sair na próxima semana. Os iraquianos pertencem à minoria yazidi, que está sendo morta ou escravizada pela facção radical que domina parte dos territórios do Iraque e da Síria.
Eles deixaram a região de Mossul, norte no Iraque, atravessaram a fronteira da Turquia e, depois, munidos de passaportes falsos gregos e israelenses, embarcaram para São Paulo.
Uma vez no Brasil, cruzaram o país de ônibus até o Pará e, depois, chegaram até a Guiana Francesa. Na última etapa da viagem, quando tentaram embarcar na capital do departamento ultramarino francês, Caiena, rumo a Paris, foram presos pela Polícia de Fronteiras por causa dos passaportes falsos.
A rota de fuga custou € 14 mil (R$ 44 mil) por pessoa, segundo as autoridades da Guiana Francesa.
"É extremamente preocupante que o primeiro reflexo do governo da Guiana Francesa tenha sido o de tentar expulsá-los para o Brasil, especialmente porque o governo de François Hollande prometeu receber os cidadãos iraquianos vítimas do EI", disse Lucie Curet, dirigente local da Cidema, uma organização não governamental que apoia refugiados.
No início da ofensiva da coalizão contra o EI, o ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, afirmou que a França estava de braços abertos para acolher os perseguidos no Iraque.
A polícia da Guiana Francesa manteve o grupo em um regime de prisão provisória por 48 horas, mas depois recuou na tentativa de devolvê-los ao Brasil.
FRONTEIRAS FECHADAS
A rota insólita dos iraquianos, segundo Curet, é um reflexo da política de endurecimento contra a imigração na Europa.
No ano passado, segundo ela, um grupo de sírios que fugiu da guerra no país também passou pelo Brasil para conseguir chegar à Guiana Francesa a fim de pedir asilo na França.
Após a libertação em Caiena, a primeira dificuldade foi encontrar um lugar para abrigá-los. No território vizinho ao Brasil, há apenas um abrigo com capacidade para oitenta pessoas ""insuficiente para atender mais de mil pessoas que estão atualmente tentando obter asilo, segundo a Cidema.
A "título excepcional", conforme a dirigente da Cidema, o governo providenciou hospedagem em um hotel da cidade até a decisão sobre os pedidos de asilo. Eles podem circular livremente pela cidade, mas as dificuldades de comunicação predominam.
"Eles só falam curdo, há alguns que entendem um pouco do árabe falado no Iraque e, por sorte, achamos alguém aqui que também fala o árabe do Iraque e só assim foi possível entender a situação deles e entrar com o pedido de asilo", contou Curet.