Ação do EI pode impulsionar fuga da Líbia
Órgãos que controlam imigração clandestina para a Europa temem que presença de milícia no país aumente fluxo
Outra preocupação é que jihadistas se infiltrem entre imigrantes rumo à Europa; Itália diz estar pronta para barrar EI Outra preocupação é que jihadistas se infiltrem entre imigrantes rumo à Europa; Itália diz estar pronta para barrar EI
A recente decapitação de 21 egípcios cristãos sequestrados pelo Estado Islâmico (EI) na Líbia não só demonstrou que a facção está ativa no país como também soou o alarme para o risco de um aumento da imigração clandestina para a Itália pelo mar Mediterrâneo, diante de um cenário de mais violência na Líbia.
Uma primeira medida já foi tomada na última semana: fotos da bandeira do Estado Islâmico têm sido mostradas a imigrantes resgatados a caminho da ilha italiana de Lampedusa, segundo relatou à Folha a OIM (Organização Internacional de Migração), que monitora a chegada deles ao território europeu.
Ao mostrar fotos da bandeira do EI, as autoridades querem saber se eles identificam a imagem da facção entre os grupos criminosos que agem nos distúrbios no território líbio e no tráfico de pessoas para a Europa.
"Começamos a mostrar imagens de bandeiras, pegas na internet, mas por enquanto não houve ninguém que fizesse esse tipo de identificação direta", afirmou Flavio Di Giacomo, porta-voz da OIM na Itália.
A proximidade entre a Líbia e Itália abre espaço para outra preocupação do governo italiano: o uso das viagens clandestinas como porta de entrada para que integrantes do Estado Islâmico cheguem à Europa infiltrados nos barcos.
Documentos atribuídos a apoiadores do EI, divulgados pela mídia britânica na última semana, mencionam estratégias de usar a rota para atingir o continente europeu.
A Líbia seria, no caso, o melhor ponto de partida, diante do descontrole político da região.
IMPULSO PARA FUGA
No último dia 15, o EI divulgou um vídeo de cinco minutos mostrando a morte dos cristãos egípcios, capturados no começo de janeiro enquanto trabalhavam na Líbia.
Para as autoridades envolvidas no controle do fluxo migratório para a Europa, a presença da milícia radical na Líbia pode aumentar o temor de viver no país.
Isso poderia, por sua vez, impulsionar o movimento de pessoas que estão na região à espera de uma chance de embarcar, mesmo que em condições precárias, arriscadas e pagando até € 2.000 (cerca de R$ 6.500) a aliciadores.
"A nossa preocupação é que as disputas devem aumentar dentro do país, e muita gente está fugindo disso. A ação do EI preocupa porque deteriora ainda mais a situação na Líbia", disse Giacomo. Os relatos dos imigrantes, diz, são de um cenário de conflito armado no país.
A Líbia, instável politicamente desde a queda de Muammar Gaddafi em 2011, é a origem de pelo menos 90% dos embarques de barcos e botes ilegais para o sul da Itália.
Entre os dias 13 e 17 deste mês, 3.800 pessoas foram resgatadas no mar fugindo em direção à Sicília (Itália), segundo a OIM --dessas, cerca de 1.200 foram levadas para a ilha de Lampedusa.
Considerando todo o mês de fevereiro, o número chega a 4.300, acima dos 3.500 registrados em janeiro. Pelo menos 300 morreram afogados.
Em 2014, 170 mil foram salvos, quatro vezes mais do que no ano anterior.
Estima-se que 200 mil pessoas de vários países africanos e da Síria estejam em território líbio em busca de trabalho e no aguardo dessa oportunidade de viajar.
Muitos são cristãos da Eritreia e da África subsaariana, potenciais alvos da repressão do Estado Islâmico.
BLOQUEIO AO EI
Na quinta-feira (19), em meio à repercussão da decapitação dos egípcios, o primeiro-ministro italiano, Mario Renzi, declarou que o país está pronto para liderar ações na Líbia para barrar o movimento do Estado Islâmico.
Uma célula terrorista vinculada à facção radical teria sido responsável por um triplo atentado, no dia seguinte, que deixou 45 mortos e 70 feridos na Líbia.
O ataque foi à cidade de Qubbah, no leste líbio, que abriga apoiadores do EI. A ação seria represália ao bombardeio egípcio à região depois da morte dos 21 cristãos.