Governo invade sede de partido em Caracas
Policiais e agentes do serviço secreto de Maduro entram em escritório da sigla conservadora Copei e levam papéis
Autorização judicial não foi mostrada, diz dirigente; antes, grupo de pessoas ocupou prédio sem ser repreendido
O Copei, partido conservador que teve grande influência na Venezuela até o fim dos anos 1990, denunciou que um de seus prédios em Caracas foi invadido nesta segunda-feira (23) por um grupo de pessoas com apoio da polícia.
A ação, chamada pelo Copei de intimidação, ocorreu no mesmo dia em que a sigla aderiu publicamente a um chamado de setores da oposição pedindo uma "transição" no país.
O apelo havia sido assinado pelo prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, preso na quinta (19) sob acusação de conspiração.
Segundo relatou à Folha o presidente do Copei em Caracas, Antonio Ecarri, a tomada começou às 3h desta segunda (4h30 de Brasília), quando um grupo de 30 pessoas, incluindo mulheres e crianças, quebrou o portão e invadiu o prédio, que abriga escritórios ligados às atividades sociais do partido.
Os vigias foram rendidos pelos invasores, que alegaram ser grupos de sem-teto em busca de moradia. Cerca de metade tinha armas.
Não está claro se as pessoas armadas eram agentes de inteligência à paisana ou membros de "coletivos", facções paramilitares que gravitam na órbita do governo.
Horas depois, agentes uniformizados do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin) e de vários órgãos policiais entraram no prédio, sem autorização judicial.
Após a libertação dos vigias, os policiais interditaram o local. Houve bate boca com membros do Copei que haviam chegado. No fim da manhã, homens do Sebin saíram levando caixas que continham documentos e material eleitoral, como cartazes.
Também houve presença de esquadrões antibomba.
O Copei teme ter sido "plantado" material para comprometer o partido, como provas forjadas de conspiração ou de envolvimento na "guerra econômica" da qual o governo se diz vítima.
Até a conclusão desta edição, os invasores continuavam no prédio, cujos acessos permaneciam bloqueados pela polícia.
"Os funcionários do governo nem nos dirigem a palavra e usam mães com filhos como escudo e pretexto para esta assombrosa invasão", disse Ecari. "Cobramos explicação da polícia e do Ministério Público, mas ninguém diz nada". O Copei informou que instalações do partido em 13 cidades foram ocupadas.
As invasões ocorreram horas antes de o Copei aderir a um recente manifesto que fala em um "chamado para [pôr] em marcha um acordo nacional para a transição [de governo]".
O texto foi lançado pelos líderes opositores acusados de fomentar violentos protestos em 2014 para derrubar o governo: além de Ledezma, o ex-prefeito de Chacao Leopoldo López, também preso, e a deputada cassada María Corina Machado, investigada.
Para o Copei, o Sebin sabia do anúncio e orquestrou a invasão em represália.
Hoje sem grande relevância, o Copei dominou a política venezuelana, ao lado do Ação Democrática, desde os anos 1960 até a eleição de Hugo Chávez, em 1998.