Em anúncio, governo argentino contesta acusação de promotor
Nota publicada em jornais destaca 'contradições' na ação de Nisman
Numa nova tentativa de desqualificar as acusações do promotor Alberto Nisman, encontrado morto em janeiro, contra a presidente Cristina Kirchner, o governo argentino publicou, nesta quarta (4), nos principais jornais do país, um anúncio em que ressalta contradições na denúncia.
"Cabe perguntar qual objetivo perseguia o promotor Nisman com sua denúncia repleta de contradições, carência lógica e sustentação jurídica. Pode-se pensar numa hipótese que não seja gerar um efeito político desestabilizador?", diz a nota, intitulada "Compromisso, verdade e justiça".
A versão do governo é que foi firmado um acordo com Teerã, em 2013, para tentar interrogar os suspeitos no Irã.
"[O memorando] colocaria o Estado argentino em um melhor contexto frente ao Irã e à comunidade internacional para exigir a extradição ou ao menos negociar um julgamento [dos suspeitos] em um terceiro país", afirma o anúncio.
A Justiça iraniana vetou o acordo, porque não considerava os iranianos citados suspeitos. Na Argentina, a tratativa foi vista com desconfiança pela comunidade judaica.
Se não teria êxito em interrogar os suspeitos, quais vantagens teria a Argentina em fazer um acordo com o Irã? Nisman alegava que haveria uma suposta vantagem econômica, o que o governo nega.
RECURSO
Também nesta quarta o promotor que substituiu Nisman, Gerardo Pollicita, apresentou recurso contra a decisão da Justiça de interromper a apuração. Agora, a Justiça terá que apreciar novamente o seu pedido.
Ele argumenta que a decisão de suspender a investigação é prematura e que é preciso esgotar todas as suspeitas antes de encerrar o caso.
Pollicita assumiu a denúncia de Nisman, que apareceu morto dias depois de acusar a presidente e aliados de tentar proteger iranianos suspeitos pelo atentado à entidade judaica Amia, em 1994. Em troca, a Argentina poderia comprar petróleo mais barato e vender grãos.
A Justiça havia rejeitado a investigação, alegando que o principal indício de delito --a suposta tentativa de retirar os alertas vermelhos dos iranianos na Interpol-- não ocorreu.
"Uma hipótese criminal de inusitada gravidade e transcendência institucional, como a apresentada pelo doutor Nisman, demanda a realização de todos os esforços possíveis para tentar alcançar a verdade", afirmou Pollicita.