Pivô da fuga de boliviano vai assessorar tucano no Senado
Aloysio Nunes chama diplomata Eduardo Saboia para integrar comissão
Ele enfrenta processo de sindicância por ter trazido em 2013 ao país, sem autorização, asilado em embaixada
O diplomata Eduardo Saboia, pivô da fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina ao Brasil --que levou à queda do então chanceler Antonio Patriota, em 2013--, foi convidado a integrar a área técnica da Comissão de Relações Exteriores do Senado.
O convite --já aceito por Saboia-- foi feito pelo novo presidente da comissão, senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que foi candidato a vice-presidente na chapa de Aécio Neves. Segundo o tucano, o novo posto vai tirar o diplomata da "geladeira" na qual está desde o episódio.
"Ele é um excelente profissional, bem preparado. Vou tirá-lo da geladeira. Eu acho que estou até prestando um serviço para eles [Itamaraty]", disse Aloysio à Folha.
O Itamaraty ainda precisa autorizar a cessão do funcionário, hoje lotado no Departamento de Assuntos Financeiros e Serviços --mas a praxe é que isso ocorra.
O ministério informou que, até a tarde de quarta (11), não havia recebido ofício com o pedido de liberação dele.
Saboia, que era encarregado de negócios da embaixada do Brasil em La Paz, está sendo investigado por sindicância interna por ter viajado, sem autorização, com Pinto Molina.
O boliviano, opositor do presidente Evo Morales, pediu asilo na embaixada e lá ficou por um ano, sem autorização para deixar o local.
Ele foi retirado em um carro da embaixada por Saboia e levado até a fronteira. O diplomata alega que o senador estava em depressão e que havia risco de suicídio.
Saboia diz não acreditar que o governo vá impedir que ele trabalhe com Aloysio, um dos líderes da oposição ao PT. "Sempre houve diplomatas trabalhando no Senado e na Câmara, há uma tramitação para que eu possa trabalhar na comissão, mas acredito que não haverá problemas", disse à Folha.
"Eu fiquei honrado com o convite e gostaria de usar minha experiência em relações internacionais para auxiliar os parlamentares."
Segundo o advogado de Saboia, Ophir Cavalcante Júnior, o relatório da sindicância, concluído e engavetado pelo ex-chanceler Luiz Alberto Figueiredo desde abril de 2014, foi devolvido, sem qualquer decisão, à corregedoria.
O advogado disse que se reunirá com a corregedora responsável pelo caso, Ana Lélia Beltrame, na sexta (13) para pedir esclarecimento sobre o processo.
"A meu ver, já está prescrito qualquer direito a punição do ministro em razão dessa inércia na apreciação. O ministério tinha 180 dias para poder apreciar esse processo", afirma o advogado. O processo foi instaurado no primeiro semestre de 2014. (PATRÍCIA CAMPOS MELLO, ISABEL FLECK, GABRIELA GUERREIRO)