Ultraortodoxos resistem a favoritos em eleição israelense
Likud, de Netanyahu, e União Sionista, que lideram as pesquisas, terão de buscar apoio para obter 61 cadeiras
Judaísmo da Torá Unida deve se aliar à União Sionista, de Isaac Herzog, que pode ter 25 cadeiras no Parlamento
Construídas em torno de ideologias seculares (não ligadas à religião), as duas maiores forças políticas destas eleições israelenses --Likud e União Sionista-- terão de lidar, após os votos desta terça (17), com partidos com que têm pouca afinidade: os ultraortodoxos.
Quem quer que receba a tarefa de formar um governo irá estender a mão a essa complicada galáxia de eleitores que gira em torno de rabinos messiânicos, vestimentas negras e uma vida dedicada ao estudo dos textos religiosos.
São partidos como o Shas, que deve conquistar nove cadeiras no Parlamento, e o Judaísmo da Torá Unida, com previsão de seis assentos.
A relação entre esses grupos e as coalizões é construída, segundo o analista político Chaim Cohen, em cima "do jogo dos números".
Figura próxima à liderança ultraortodoxa, Cohen afirma que "Likud e União Sionista são o mesmo para nós. Se puderem ter um governo sem religiosos, terão."
Mas é possível que não possam. O premiê Binyamin Netanyahu, do Likud, deve ter 21 cadeiras. Isaac Herzog, da União Sionista, 25. Para formar o governo, são necessárias ao menos 61.
Cohen prevê que, nesse cenário, o Judaísmo da Torá Unida apoie a União Sionista. Em parte, pela decepção em relação a Netanyahu, que "prometeu tudo aos religiosos, mas não cumpriu".
Membros da população ultraortodoxa, conhecidos como "haredim", entraram em atrito nos últimos anos devido a pedidos de que sirvam no Exército --seus jovens são isentos-- e aos cortes no auxílio que recebem do Estado.
Esses religiosos afirmam que seu dever é cumprido com a leitura repetida dos textos sagrados, a que se dedicam exclusivamente.
Segundo Cohen, é mais difícil prever qual será o alinhamento do Shas, que no passado aliou-se ao Likud. O partido religioso Yahad, surgido de uma divisão do Shas, pode fazer parte de uma possível coalizão com Netanyahu.
RABINATO
A Folha esteve domingo (15) em regiões ultraortodoxas de Jerusalém, como o bairro de Mea Shearim. A discussão eleitoral ali era ainda mais problemática: cartazes pediam aos moradores que não participassem das eleições, para não dar legitimidade ao processo eleitoral.
Eric Brosh, 35, de origem iraquiana, dizia, perto da praça do Shabat, que votará no Yahad "porque é o mais à direita. Se a esquerda ganhar, irá entrar em acordo com os palestinos. Isso nos assusta."
Rani Or Chaim, 25, estava menos certo a respeito de seu voto. Religiosamente, ele afirma ter de seguir a recomendação de seu rabino na urna, ideia repetida por outros moradores de região. Mas essa regra não lhe ajuda neste ano.
Ele é seguidor do rabino Ovadia Yosef, ex-líder do partido Shas. Mas, desde a morte de Yosef, em 2013, seu partido foi dividido e deu origem ao Yahad, ao qual o jovem também se sente obrigado a votar. "No fim, vou votar como meu pai votar."