Novo combate ao terror tem que ser local, diz especialista
Para Seth Jones, EUA devem se concentrar em ajudar aliados em países com presença de extremistas religiosos
Para lidar com a nova realidade de uma ameaça terrorista mais descentralizada e abrangente, os EUA devem colocar seu foco cada vez mais na ajuda a aliados e governos de países com presença de grupos extremistas religiosos.
A análise é do especialista em contraterrorismo Seth Jones, pesquisador do centro de estudos Rand Corporation, que mapeou uma multiplicação de grupos extremistas nas últimas duas décadas.
À Folha, Jones disse ser fundamental que o combate ao terror seja tratado, quatro anos após a morte de Osama bin Laden, o líder da Al Qaeda, num contexto local, uma vez que a ação desses grupos já vem sendo repelida nos próprios países, numa "batalha entre populações locais e suas concepções ideológicas".
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Folha - Um estudo seu mostra que o número de grupos extremistas religiosos no mundo mais do que dobrou desde 2001. É uma evidência de que a guerra ao terror fracassou?
Seth Jones - Esse aumento é resultado de uma série de coisas, entre elas a Primavera Árabe (a partir do fim de 2010), que contribuiu para o enfraquecimento de governos no Norte da África e no Oriente Médio. Em muitos países em que vimos subir o número de grupos e combatentes extremistas --como Síria, Iêmen, Líbia--, as instituições estavam destruídas.
Após a morte de Osama bin Laden, em 2011, qual foi a mudança mais significativa no modelo de combate ao terrorismo?
A ação de contraterrorismo americana não se baseia mais em enviar forças convencionais para lutar em outros países. As ações agora são feitas predominantemente por forças de operação especiais ou por unidades de inteligência. O foco, nesse sentido, é ajudar a construir a capacidade do Estado local ou de aliados regionais.
Suspeito que também vamos ver uma redução no ataque com drones. Já há um reconhecimento que eles não são uma estratégia: você não consegue derrotar um grupo extremista assim. Além disso, erros recentes, como a morte de reféns no Paquistão, levantaram novamente o debate.
Essa fórmula de ajudar tropas locais pode ser aplicada a qualquer país?
Pode ser usada em muitos países, o problema é que isso depende de um governo que seja minimamente eficiente. Um dos exemplos desse obstáculo é o Iêmen, onde o governo que estava comprometido em combater a Al Qaeda sofreu um colapso e se engajou em uma guerra civil.
Como deveria ser a nova guerra ao terror?
É preciso ter não só operações militares, mas saber lidar com questões de governança e ideológicas, porque essa também é claramente uma batalha entre populações locais e suas concepções ideológicas.
A principal questão é apoiar aliados locais que já reagem de forma legítima contra essas forças [extremistas].
O que representou para Al Qaeda perder Bin Laden?
A Al Qaeda tem tentado expandir sua influência, mas o grande problema que ela enfrenta é o surgimento de um competidor global, o Estado Islâmico, que disputa espaço e recruta combatentes inclusive no seu quintal, o Afeganistão e o Paquistão.