UE propõe ação militar contra travessias
Bloco pedirá à ONU autorização para desfazer esquema de balsas com imigrantes que atravessam o Mediterrâneo
Europeus querem aval para agir além das fronteiras marítimas do continente, capturando barcos já perto da Líbia
A União Europeia quer o respaldo da ONU para combater traficantes responsáveis por travessias de imigrantes que tentam chegar ao bloco pelo mar Mediterrâneo.
A chefe de diplomacia da UE, Federica Mogherini, fez um apelo nesta segunda-feira (11) para que o Conselho de Segurança da ONU dê aval a uma operação para desmantelar esse esquema.
Na prática, os líderes querem o suporte legal do conselho para agir militarmente em águas marítimas além do continente, sobretudo na região da Líbia, território instável e que corresponde a 90% da origem desses embarques clandestinos.
"Ninguém está pensando em bombardear, mas numa operação naval", disse Mogherini, em Nova York.
Ela frisou que o principal objetivo é "salvar vidas e prevenir mais perdas no mar".
No mês de abril, após o trágico naufrágio com 850 pessoas que partiram da Líbia, os líderes da UE, grupo que reúne 28 países, anunciaram medidas, entre elas a a captura e destruição de barcos usados pelos aliciadores.
O "modus operandi" dessa ação, no entanto, nunca ficou muito claro. Em tese, a UE pode precisar de um aval da ONU, principalmente se quiser ultrapassar as fronteiras marítimas do continente.
A ONU estima que ao menos 60 mil pessoas já tenham tentado fazer essa travessia em 2015, das quais 1.800 teriam morrido no caminho --em 2014, foram 218 mil viajando, mais que o quádruplo em relação ao ano anterior.
Segundo as agências de notícias, os quatro membros europeus no Conselho de Segurança da ONU --Reino Unido, França, Lituânia e Espanha (os dois últimos em assentos rotativos)-- estariam preparando resolução que permitiria o uso da força em alto-mar.
O documento deve circular entre os 15 membros do Conselho nos próximos dias para que seja avaliado.
A China e a Rússia são os países que mais preocupam a UE sobre um eventual veto dentro do Conselho.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, já demonstrou resistência a uma operação militar, assim como grupos de direitos humanos.
COTAS DE IMIGRANTES
A Comissão Europeia deve discutir nesta quarta (13) uma proposta, apoiada pela França, de criar uma cota para cada país do bloco receber esses imigrantes. Seria uma forma de dividir a responsabilidade entre os 28 membros.
A ideia, porém, sofre resistência em países como o Reino Unido, que não quer ser forçado a aceitar refugiados.
Entre 2009 e 2011, o fluxo de imigração chegou a ser reduzido após acordo entre a Itália, do então primeiro-ministro Silvio Berlusconi, e a Líbia, na época sob o ditador Muammar Gaddafi.
Pelo trato, a Líbia poderia monitorar e deter os barcos pelas águas dos dois países, enquanto a Itália teria autonomia para devolvê-los. Mas a derrocada de Gaddafi em 2011, a saída de Berlusconi do governo, somados aos distúrbios da Primavera Árabe em países vizinhos naquele ano, aceleraram de novo o fluxo.