Análise
Decisão expõe dualidade de Obama em país polarizado
A agenda verde de Obama é mais um reflexo da dificuldade de se ter um presidente de consenso em um país com uma política cada vez mais polarizada. Ao tratar de ambiente, Obama frequentemente irrita sua base de apoio sem conquistar adesões entre a oposição republicana.
Apoiado pela minúscula (mas barulhenta) esquerda ambientalista americana nas eleições de 2008, Obama logo se viu com a recessão herdada do governo de George W. Bush (2001-2009) e com uma taxa de desemprego que chegaria a 10% em seu primeiro ano na Casa Branca.
Em nome da geração de empregos, o democrata foi bastante flexível em permitir a expansão da exploração de gás de xisto pelo sistema de fraturação hidráulica. Ambientalistas criticaram a permissividade da gestão Obama com as empresas petrolíferas, sempre mais próximas da oposição republicana.
Para equilibrar a agenda, Obama destinou bilhões de seu pacote de recuperação econômica em 2009 e 2010 para empresas que investissem em energias renováveis, colecionando alguns sucessos (a montadora de carros elétricos Tesla, que agora investe pesado em baterias) e fracassos (Solyndra, fabricante de painéis solares, faliu, mesmo com empréstimo federal de US$ 527 milhões).
Mas o boom energético a partir da fraturação hidráulica virou realidade, o preço da gasolina caiu à metade e deixou o país bem menos dependente do petróleo do Oriente Médio --permitindo o diálogo com o Irã, que incomoda os aliados Arábia Saudita e Israel e parte do eleitorado judeu democrata.
Por outro lado, sabendo que a maioria do Congresso é contrária a políticas que envolvam custos para se reduzir a emissão de gases (e que mais da metade da população americana não acredita no aquecimento global), Obama passou por cima do Congresso e assinou uma ordem presidencial para chegar a um inédito pacto com a China em novembro passado.
Em outro momento, o Obama ambientalista vetou, em fevereiro, a ampliação do oleoduto Keystone XL, que corta o país da fronteira com o Canadá ao golfo do México, mesmo depois de aprovada pela Câmara e pelo Senado, sob controle da oposição.
Mesmo sendo uma decisão celebrada pelos ambientalistas e protelada pelo Departamento de Estado e pela Agência de Proteção Ambiental, Obama evocou a economia para vetar. "O oleoduto não cria muitos empregos", disse em uma entrevista coletiva.
O equilíbrio entre reanimar a economia americana e preservar o ambiente ainda desafia a coerência obamista.