Otan avalia novo arsenal no Leste Europeu
Em resposta, Rússia anuncia que terá 40 novos mísseis; movimentação vai contra acordos após a Guerra Fria
General confirma que EUA e aliados estudam instalar armamento pesado na região, onde tensões aumentaram
A Otan (principal aliança militar ocidental) confirmou nesta terça (16) que avalia a possibilidade de posicionar armamento pesado no Leste Europeu em resposta a eventuais ameaças russas.
A declaração foi dada pelo chefe de tropas da Otan, o general americano Philip Breedlove, em evento na Polônia.
Segundo a agência Associated Press, Breedlove afirmou que os EUA e outros países-membros da Otan estudam posicionar esse tipo de equipamento bélico, como tanques e artilharia, numa espécie de retaguarda militar.
A declaração sinaliza uma mudança na Otan. Nos últimos anos, a principal aliança militar ocidental vinha recuando de movimento nesse sentido na região.
No sábado (13), reportagem do jornal "The New York Times" informara que o governo americano planeja aumentar seu efetivo nos países bálticos e do Leste Europeu com armamento pesado, mobilizando 5.000 soldados.
Se o plano for aprovado, seria a primeira vez desde o fim da Guerra Fria (1991) que os americanos se posicionariam de maneira permanente nos países que aderiram à Otan mais recentemente.
É o caso dos bálticos (Letônia, Estônia e Lituânia), que estiveram na esfera de influência soviética e se uniram à aliança em 2004.
O governo polonês também confirmou estar negociando com os EUA qual posição militar pode oferecer.
De acordo com o "NYT", equipamentos para cerca de 150 soldados, por exemplo, seriam colocados em cada uma das três nações bálticas.
MÍSSEIS RUSSOS
O suposto movimento dos EUA já provocou a reação do presidente da Rússia, Vladimir Putin, que anunciou nesta terça (16) a instalação de 40 mísseis intercontinentais.
Segundo Putin, esses mísseis fazem parte de um programa de modernização militar e serão "capazes de passar pelos sistemas de defesa antiaérea mais sofisticados".
Em resposta à declaração do dirigente, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou que o gesto russo é "desestabilizador e perigoso", o que seria, a seu ver, um "padrão de comportamento" do governo Putin.
Diante disso, segundo ele, a aliança ocidental deve ficar de "prontidão" para qualquer ameaça de Moscou.
"Essa ameaça é injustificada, é como desembainhar a espada nuclear. Essa é uma das razões pela qual estamos aumentando o grau de prontidão e preparando nossas forças", disse Stoltenberg.
Ele alegou que a atuação da Otan é "proporcional" e segue os "compromissos internacionais" da aliança.
A crise entre a Otan e a Rússia intensificou-se no ano passado, durante o conflito no leste da Ucrânia.
As potências ocidentais acusam a Rússia de apoiar militarmente o grupo separatista que assumiu o controle de parte daquela área ucraniana. O presidente russo nega que esse apoio exista.
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, também reagiu ao anúncio da Rússia sobre instalar 40 novos mísseis.
"Ninguém pode ouvir um anúncio desse tipo de um líder de um país poderoso e não ficar preocupado com as implicações", afirmou.
A Rússia tem hoje, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo, aproximadamente 7.500 ogivas nucleares, das quais 1.780 estão mobilizadas em mísseis ou bases militares. Os EUA têm 7.300 ogivas, 2.080 das quais estão mobilizadas. Os dois países mantêm um compromisso para redução de arsenais nucleares.