Análise
Facção Estado Islâmico se torna marca a inspirar outros
Midiática, organização terrorista opera nos moldes da Al Qaeda dos anos 2000
Os atentados desta sexta-feira (26) demonstram o sucesso do EI (Estado Islâmico) em viralizar sua marca em ações terroristas pelo mundo, lembrando o que a Al Qaeda ensaiou fazer nos anos 2000 --tendo sido asfixiada por ações militares patrocinadas pelo Ocidente.
O fato é que os incidentes de sexta têm características distintas, mas levam o selo de "ação do EI" por gravidade.
O mais letal, ocorrido numa praia de Sousse, na Tunísia, carrega a marca de uma ação de insurreição típica do Norte da África. Como na Argélia nos anos 90, esses grupos islâmicos têm sua violência fundamentada em rivalidades tribais e confessionais.
Por força de regimes autocráticos, a Tunísia sempre buscou uma imagem liberal e firmou-se como destino turístico. Lugares como Sousse ou a ilha de Djerba são coalhados de resorts para a classe média europeia. Ou seja, alvos para grupos que já estavam à espreita antes de o EI surgir no mapa jihadista.
Já o ataque no Kuait se insere em um quadro maior, de disputa geopolítica entre a Arábia Saudita sunita e o Irã xiita pela influência em Estados do Golfo e no Oriente Médio como um todo. Ser "do Estado Islâmico" é apenas, neste caso, uma conveniência.
Por fim, a ação na usina de gás francesa sugere um típico caso de ataque inspirado pelo EI --embora só a investigação dirá se houve envolvimento direto, com treinamento do terrorista em algum campo do grupo.
Aparentemente, trata-se do famoso "lobo solitário", o indivíduo que por motivos diversos é atraído pela ideologia extremista num contexto de inadequação social.
Não por acaso o ataque ocorreu na França, palco do massacre no semanário satírico "Charlie Hebdo" em janeiro. O país, que tem uma das maiores populações islâmicas na Europa, vive um difícil equilíbrio entre políticas seculares e a pressão demográfica de imigrantes muçulmanos e seus descendentes.
Se isso parece abstrato e você estiver em Paris, experimente subir a pé o bulevar Magenta da place de la République até a região de Saint-Ouen para compreender a tensão palpável que existe no ar entre as comunidades do Magreb e os franceses mais tradicionalistas.
Assim, temos casos díspares que podem até ter tido algum tipo de coordenação vinda do deserto da Síria ou do Iraque, algo bem fácil na era da internet, mas que na prática usam o guarda-chuva do jihadismo internacionalista do Estado Islâmico.
O EI usa então um elemento do capitalismo que tanto combate, o "branding" e a ideia de franquias, para firmar-se como sucessor mais perigoso e radical da Al Qaeda no imaginário ocidental.