Revista alemã diz ter sido vigiada pelos EUA
Segundo 'Der Spiegel', chefe da CIA na Alemanha avisou inteligência local de que agente vazou dados à publicação
Suspeita é que EUA monitoravam conversas de repórteres com autoridades; Washington não nega nem confirma
A revista alemã "Der Spiegel" apresentou uma denúncia à Procuradoria federal da Alemanha por suspeitar ter sido espionada pela Inteligência dos Estados Unidos em 2011, informou a publicação nesta sexta-feira (3).
Segundo apurou a "Der Spiegel", em 2011 a CIA fez uma advertência ao chefe do serviço secreto alemão, Günter Heiss, dizendo que seu coordenador-adjunto, Hans Josef Vorbeck, teria vazado dados confidenciais para jornalistas da revista.
De acordo com a "Spiegel", o conhecimento da CIA sobre esses vazamentos seria uma evidência de que os EUA monitoraram tanto a imprensa quanto as autoridades.
À época, Heiss não informou o governo alemão sobre a suposta espionagem americana, a qual representaria uma violação às leis do país. A única atitude tomada foi afastar Vorbeck de seu cargo e transferi-lo para uma seção de arquivo do governo.
Ao reportar o caso de espionagem nesta sexta-feira, a "Spiegel" acusou o governo da chanceler alemã, Angela Merkel, de "fazer piada do Estado de Direito".
"Com mais detalhes surgindo, fica cada vez mais claro que representantes do governo alemão, na melhor das hipóteses, fizeram vista grossa às violações cometidas pelos americanos, e, na pior das hipóteses, as apoiaram."
Ned Price, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, não negou nem confirmou o episódio. Disse apenas que "as pessoas ao redor do mundo deveriam saber que os EUA não espionam quem não nos ameaça".
O caso está sendo estudado por uma comissão do Parlamento alemão que investiga as operações do serviço secreto americano no país.
ESPIONAGEM EM MASSA
As suspeitas de espionagem sobre a "Spiegel" realimentam o escândalo de monitoramento de comunicações pela inteligência dos EUA, revelado em 2013 por Edward Snowden, ex-funcionário da NSA (Agência Nacional de Segurança dos EUA).
Na época, tornou-se público que os EUA haviam espionado centenas de civis estrangeiros, bem como autoridades e chefes de Estado, incluindo Merkel e a presidente brasileira, Dilma Rousseff.
Na semana passada, revelou-se que os EUA também espionaram os ex-líderes franceses Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy, bem como o atual, François Hollande.
Se for confirmado, o caso da "Spiegel" demonstraria que a espionagem americana atingiu não apenas governos, mas também a liberdade de imprensa em outros países.
Os meios de comunicação americanos, por sua vez, já foram alvos de escândalos desse tipo.
Em maio de 2013, foi revelado que o governo dos EUA teria grampeado ao menos cem jornalistas da agência Associated Press a fim de identificar a fonte de uma reportagem de 2012 sobre um plano da rede Al Qaeda no Iêmen para explodir um avião com destino aos EUA.