Espionagem do Brasil por EUA foi maior, diz WikiLeaks
Lista divulgada por grupo indica que BC e ministros também foram alvo
Revelação em 2013 abriu crise entre os dois países só superada com visita de Dilma a Obama em junho deste ano
A organização WikiLeaks divulgou neste sábado (4) uma lista de supostos documentos da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) revelando que o monitoramento ao governo brasileiro incluiu grampos a assessores próximos da presidente Dilma Rousseff, ministros e autoridades do Banco Central.
Segundo o site da organização, conhecida por vazar documentos sigilosos, 29 telefones de atuais e ex-integrantes do governo teriam sido grampeados no início do primeiro mandato de Dilma (2011) pela agência. Alguns deles teriam sido acessados já em dezembro de 2010.
Não está claro o teor das conversas obtidas, pois o conteúdo dos documentos não foi revelado.
Entre os alvos de grampo listados estão o ex-chefe da Casa Civil Antonio Palocci e o então secretário-executivo do Ministério da Fazenda e hoje ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, além do ex-chanceler e atual embaixador em Washington, Luiz Alberto Figueiredo.
Em junho de 2013, veio à tona que Dilma e alguns de seus principais assessores foram alvo de espionagem da NSA, assim como governos de outros 15 países, como França e Alemanha. A Petrobras também teria sido monitorada.
A revelação abriu uma crise entre os dois governos que levou ao cancelamento da visita de Estado de Dilma aos EUA prevista para ocorrer naquele ano. A questão só foi superada recentemente, quando a viagem oficial da presidente foi remarcada.
A nova divulgação, programada para o Dia da Independência dos EUA, ocorre quatro dias após Dilma ser recebida pelo presidente Barack Obama na Casa Branca e os dois líderes trocarem declarações de confiança mútua.
PANOS QUENTES
O Palácio do Planalto, em uma reação muito mais contida do que a de 2013, minimizou o novo episódio e reafirmou a importância da parceria com Washington (leia textos nesta página).
Procurado pela Folha, o Departamento de Estado dos EUA não se manifestou, lembrando apenas que o assunto foi extensamente abordado em outras ocasiões.
Desta vez, o Wikileaks aponta como alvos de espionagem autoridades do BC, embaixadores do país em Paris, Berlim e Genebra e ministros, além do chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general José Elito Carvalho Siqueira.
Segundo a nova lista, até o avião presidencial teria sido grampeado pela NSA.
O ativista Julian Assange, editor-chefe do WikiLeaks, disse em comunicado que a nova revelação "mostra que os EUA terão um longo caminho a percorrer para provar que sua vigilância sobre governos ditos amigáveis acabou".
"Os EUA não só tiveram como alvo a presidente Rousseff, mas também as figuras-chave com quem ela conversava todos os dias", disse Assange, asilado na Embaixada do Equador em Londres para evitar a extradição.
"Mesmo se fossem confiáveis as garantias de que a espionagem à presidente será cessada, o que não são, é difícil imaginar que ela possa governar o Brasil falando consigo mesma o dia todo."