Análise
Dilma virou a página e não voltará a demonstrar ira
Se alguém espera uma reação do governo brasileiro idêntica à de 2013, quando surgiram as primeiras revelações de espionagem, vai esperar o resto da vida.
Primeiro porque a espionagem revelada há dois anos atingia o mais alto nível da República, a presidente. Era um insulto que precisava ser respondido à altura, sob pena de desmoralizar Dilma Rousseff e seu governo.
Se os EUA se dispunham a vigiar a presidente, é evidente que também se disporiam a olhar para o andar abaixo.
A reação agora terá que ser, logicamente, mais branda.
Mas, acima de tudo, à altura principalmente de uma inflexão, embora sutil, na política externa, que passa a privilegiar aliados tradicionais (caso dos EUA), sem desprezar novos amigos, para usar a linguagem do Itamaraty.
Depois que os dois governos declararam, há dias, que o episódio de 2013 é "página virada", se a única "agenda positiva" para Dilma, nos últimos muitos meses, foi o bom resultado de sua viagem aos EUA, por que deletá-la com uma reação irada?
Complicar o relacionamento com Washington contrariaria, além disso, dois dos ministros que mais estão trabalhando em agendas positivas, o do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro, e a da Agricultura, Kátia Abreu. São eles que mais empurram o governo para acariciar Washington. E podem, melhor ainda, exibir resultados positivos.
Quem aplaudiria Dilma, internamente, se ela engrossasse de novo a voz com os EUA? Só os setores de esquerda, inclusive os do PT, já afastados da presidente por não aceitarem a política econômica.
Não custa lembrar que 63% dos brasileiros confiam na política internacional de Barack Obama, conforme pesquisa do Pew Research Center. É óbvio que espionagem faz parte dela. Encrencar com isso, portanto, não faria bem à popularidade da presidente, tão baixa no momento que tudo que ela dispensa é atrito com quem quer que seja.