Análise
Candidatura de magnata mostra poder universal da antipolítica
Primeiro disseram que Donald Trump atingiria o pico das intenções de voto em dias. Faz um mês.
Depois disseram que o milionário do setor imobiliário tinha atingido o teto com a ajuda de "malucos" republicanos. Pesquisas registram Trump com 24% dos votos, quase o índice dos seus dois maiores rivais (Jeb Bush e Scott Walker) somados.
Por fim, somos informados de que o fim do sr. Trump paira sobre nós. A razão é simples: ele foi longe demais.
A qualquer momento, o candidato mais patético, preconceituoso e egocêntrico da história republicana vai implodir. Tudo o que restará serão aqueles cartazes luminosos piscando "Trump" nos arranha-céus e nos cassinos dos EUA. Por esse ponto de vista, poderemos voltar à política tal como a conhecemos.
Infelizmente, os especialistas estão se enganando.
A política americana não vai recomeçar de onde parou. Mesmo que Trump se torne o primeiro homem a subir aos céus em seu arroubo, ele deixará uma marca no partido.
Entre 16 candidatos, um deles atingir um quarto dos votos é um massacre. Os detratores de Trump, uma das maiores coalizões bipartidárias de que se tem memória, consolam-se pensando se tratar só de uma viagem egocêntrica que vai desandar.
Pode ser. Mas eles estão se esquecendo do principal: as legiões de republicanos reunidos sob a bandeira de Trump não vão sair de onde estão. Se a candidatura do empresário ruir, o que pode ocorrer, acharão outro ídolo.
O melhor momento de Trump está por vir. Em duas semanas, ele vai subir ao pódio no debate republicano da Fox News como o primeiro dos dez candidatos habilitados a participar (pelo critério de intenção de votos).
Trump deve fazer ali o que tem funcionado em sua campanha: insultar os demais candidatos e vê-los sofrer.
Em um momento em que deveria traçar sua estratégia, gente como Jeb Bush só tem uma coisa na cabeça: como responder a Trump? Fingir ignorá-lo ou dizer: "O sr. não tem vergonha"?
Não há resposta certa para dilemas assim. As tentativas de achincalhar Trump podem alimentar o ressentimento popular que o sustenta.
Tampouco é possível roubar-lhes as armas políticas. Sua plataforma não tem nenhuma lógica. Seu sucesso se baseia no espírito da antipolítica. Coerência, nesse caso, se chama desonestidade.
A pesquisa mais recente mostra que apenas 8% dos republicanos com nível universitário apoiam Trump, contra 32% dos demais. São os estratos raivosos dos EUA, que se sentem desprezados e insultados. Querem recuperar o país, mas não podem dizer o que realmente querem.
E então aparece Trump.
Os estrangeiros podem vê-lo como alguém tipicamente norte-americano. Mas ele tem equivalentes em qualquer lugar. Pense em Silvio Berlusconi na Itália. Quanto piores parecem, mais bem-sucedidas são suas investidas. Esse é o poder da antipolítica.