Terrorismo judaico vira problema para governo em Israel
Após bebê palestino morrer queimado, presidente critica 'hesitação'; ataques passaram de 50 entre 2008 e 2012 para 140 em 2014
Centenas de ativistas israelenses de direitos humanos têm feito uma peregrinação diária, desde a última sexta (31), a uma pequena casa incendiada na cidade palestina de Dura, Cisjordânia.
Lá, na madrugada daquele dia, terroristas jogaram uma bomba caseira que matou Ali Dawabshe, 18 meses.
A ação supostamente executada por colonos de extrema-direita foi condenada internacionalmente e deplorada pela liderança palestina. Mas chocou também Israel.
Para o presidente, Reuven Rivlin, a hora é de mea-culpa. "Infelizmente, parece que lidamos de maneira hesitante com o fenômeno do terrorismo judaico", declarou ele.
O terrorismo judaico encontra sua mais recente encarnação no Price Tag, movimento criado em 2008 com o objetivo de causar danos a palestinos, árabes-israelense, esquerdistas judeus e soldados e policiais israelenses para atrapalhar planos de paz que levem à retirada de colônias israelenses da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental.
A ideia é "cobrar um preço alto" do governo e das forças de segurança caso decidam remover assentamentos dos territórios palestinos.
Formado por extremistas religiosos, o movimento foi criado após a retirada israelense da faixa de Gaza, em 2005, considerada por colonos radicais uma traição à sua intenção de aumentar a presença judaica na região.
Três anos depois, o rabino Yitzhak Guinsburg, líder da yeshivá (internato religioso) do assentamento de Yitzhar, criou a noção de "retaliações". É dos arredores dessa colônia que saem jovens para pichar e danificar mesquitas, igrejas e bases militares. Chamados de "Juventude das Colinas", queimam plantações de palestinos, retalham pneus e bloqueiam estradas.
De 2008 e 2012, foram registrados 50 casos assim. Em 2013, foram 120, segundo a ONG israelense B'Tselem.
Em 2014, a unidade da polícia israelense para crimes nacionalistas prendeu 102 suspeitos e indiciou 37. Mas não deteve os fanáticos.
Neste ano, o número de ataques contra alvos palestinos na Cisjordânia, além de locais religiosos cristãos em Israel, beira os 140, segundo dados da imprensa local.
Segundo o Serviço de Segurança de Israel, os adeptos do Price Tag não passam de uma centena. Mas para Liat Schlesinger, chefe do departamento de pesquisa da ONG Molad, o número é maior e conta com financiamento de líderes colonos, fortalecidos desde que Benjamin Netanyahu virou premiê, em 2009.
"Essas pessoas não são poucas 'ervas daninhas'. Documentos provam que se trata de uma estratégia planejada desenvolvida pela liderança dos colonos", afirma Liat.
O Conselho de Yesha, que representa a maioria dos 500 mil colonos judeus em territórios palestinos, nega. "Incentivamos o governo a agir contra qualquer terrorista, árabe ou judeu. Se judeus cometeram o crime (em Dura), é grave", diz Igal Dilmoni, vice-presidente do Conselho.
"O governo tem que fazer tudo o que puder, desde que não seja violento, para deter esses criminosos", afirma Dilmoni, aludindo à aprovação pelo gabinete de Segurança de Israel no domingo de prisões preventivas de suspeitos de terrorismo israelenses.
Nesta segunda (3), Meir Ettinger, neto do rabino Meir Kahane, assassinado em 1990 e tido como um dos fundadores do radicalismo judaico moderno, foi preso por atacar palestinos.