Premiê de Israel nomeia líder de colonos como embaixador no Brasil
Dani Dayan preside Conselho Yesha, que reúne os 500 mil israelenses nos territórios palestinos
Para o Brasil e grande parte da comunidade internacional, política de assentamentos que ele representa é ilegal
O premiê Benjamin Netanyahu anunciou nesta terça (5) como próximo embaixador de Israel no Brasil o empresário argentino naturalizado israelense Dani Dayan, considerado um dos maiores defensores das colônias israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental e opositor da criação de um Estado palestino ao lado de Israel.
Dayan, 59, substituirá o diplomata, poeta e historiador Reda Mansour, no cargo há apenas dez meses. Segundo fontes diplomáticas, Mansour –que faz parte da minoria religiosa drusa em Israel– teria decidido deixar Brasília por motivos pessoais e é cotado para representar Israel em fóruns internacionais.
Nascido em Buenos Aires, Dani Dayan, que mora no assentamento de Ma'ale Shomron, no norte da Cisjordânia, imigrou para Israel aos 15 anos. Presidiu de 2007 a 2013 o Conselho Yesha, que representa os 500 mil colonos israelenses, e hoje é o enviado-chefe do conselho para a comunidade internacional.
Dayan é secular, o que contrasta com outros líderes colonos, e condena a violência de colonos contra palestinos ou soldados israelenses. É considerado pragmático.
O anúncio foi feito por Netanyahu pela rede social Twitter horas após Reda Mansour, que foi a Israel para conversar sobre sua substituição, embarcar de volta a Brasília, onde deve ficar até outubro.
"Nomeei Dani Dayan embaixador para o Brasil. Estou certo de que ele vai conseguir fortalecer as relações entre Israel e Brasil", tuitou o premiê, também chanceler de Israel.
CONTROVÉRSIA
O Ministério das Relações Exteriores afirmou ter como objetivo "desenvolver os laços comerciais com mercados internacionais na América do Sul, sobretudo o Brasil", que tem "uma população crescente de mais de 40 milhões de cristãos pró-Israel".
Em 2014, Israel exportou ao Brasil US$ 954 milhões e importou US$ 410 milhões, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
"Aceitei o desafio de aprofundar e melhorar as reações entre Israel e Brasil. Prometi que não mediria esforços nem criatividade no cumprimento da tarefa estratégica", afirmou em nota, acrescentando uma brincadeira: "Mesmo que não me comprometa a ganharmos uma medalha de ouro nas Olimpíadas do Rio, esperamos que isso ocorra".
A nomeação de Dayan surpreendeu não só por causa da volta prematura do atual embaixador, mas pelo fato de o próximo ser um ativista em prol dos assentamentos israelenses em territórios palestinos, considerados ilegais pelo Brasil e pela comunidade internacional como um todo.
O jornalista político Barak Ravi disse que a nomeação do empresário foi uma das "melhores que Netanyahu tomou nos últimos seis anos, senão a melhor" porque Dani Dayan é "honesto, liberal e profissional". Mas ativistas de esquerda reclamaram.
"Só um premiê da direita pode tirar um colono de sua casa, enviá-lo a outro país e ainda receber palma da direita", tuitou Yariv Oppenheimer, líder da ONG Paz Agora.
Formado em economia e computação, Dayan serviu por sete anos no exército israelense, do qual saiu com cargo de major. Depois do serviço, fundou a empresa de tecnologia Elad Systems, da qual se afastou em 2004.
Em 2005, voltou para a política –ele já havia se candidatado ao Parlamento antes–e se tornou presidente do Conselho Yesha, no qual integrava o comitê executivo.
Há um ano, durante o mais recente conflito entre Israel e o grupo radical islâmico Hamas, que governa a faixa de Gaza, o Itamaraty chamou de volta, para consultas, o embaixador em Tel Aviv.
A reação do então assessor de imprensa da Chancelaria israelense, Yigal Palmor, foi chamar o Brasil de "anão diplomático".