Eleição primária presidencial revela Argentina dividida
Terceiro colocado, dissidente peronista surpreende e torna incerta situação de favoritos à Casa Rosada
Sergio Massa, do mesmo movimento da presidente, concorre contra ela e teve, com aliados, 21% dos votos
As eleições primárias deste domingo (9), que definiram os candidatos à Presidência da Argentina, embolaram a disputa no país. O primeiro turno será em 25 de outubro.
Os números (o voto é obrigatório) puseram o governista Daniel Scioli em primeiro, com 38,4%. Mas Scioli, o herdeiro da presidente Cristina Kirchner, não é o único candidato do peronismo, movimento político dominante.
Além de Scioli, os peronistas estarão representados pelo dissidente Sergio Massa, que surpreendeu com votação expressiva em terceiro.
Esse racha –candidato oficial, dissidente peronista e oposição propriamente dita– dificulta que um dos candidatos encerre a disputa sem segundo turno: seria preciso ter ao menos 45% dos votos ou ter 40% dos votos e uma vantagem de dez pontos sobre o segundo lugar para tal.
Embora Scioli esteja próximo da marca, a oposição se fortaleceu nas primárias.
Encabeçando a frente Cambiemos (Mudemos), segunda colocada, Mauricio Macri, do Partido Proposta Republicana (PRO), disse que os números mostram que a maioria dos argentinos quer mudar.
"O governo tem uma minoria insuficiente para vencer no primeiro turno", disse.
Macri, porém, também perdeu votos para Massa, que concorre pela frente Unidos por uma Nova Argentina.
Azarões, Massa e seus aliados tinham 18% dos votos nas pesquisas. Marcaram quase 21%. É a fidelidade desse eleitor a ele em 25 de outubro que pode manter a oposição rachada e beneficiar o candidato de Cristina, Scioli.
Para o analista Patrício Giusto, a divisão da oposição favorece a situação. "A oposição fracassa ao mostrar-se em dois grandes blocos."
ESTRATÉGIAS
Massa tem o voto da direita peronista. Defende a prisão perpétua para narcotraficantes e a redução de impostos para a classe média.
Agora precisará impedir, em pouco mais de dois meses de campanha, a migração de seu eleitor para Scioli ou para Macri.
"Se Scioli tivesse obtido 40% dos votos, já poderíamos dizer que a chance de um segundo turno seria remota. Mas com os números das primárias, tecnicamente qualquer cenário é possível", diz o analista Roberto Bacman.
Por sua vez, Macri também precisa manter sua base dentro da frente Cambiemos.
Enquanto isso, após ter apresentado desempenho inferior ao de sua madrinha política, Cristina, nas primárias de 2011 (50,9%) e ido mal na província de Buenos Aires, Scioli quer seduzir outra vez "kirchneristas" desiludidos.
Segundo Bacman, o mau desempenho do governista em Buenos Aires mostra que esse eleitor optou por Massa.