Dilma critica ONU por inépcia em crises
Em discurso, presidente diz que falhas do organismo com terrorismo e refugiados expõem necessidade de reforma
Brasileira usa abertura da Assembleia-Geral para retomar pleito do Brasil por ampliação do Conselho de Segurança
A presidente Dilma Rousseff usou seu discurso de abertura da Assembleia-Geral da ONU, nesta segunda (28), para criticar a inabilidade da ONU em enfrentar o Estado Islâmico e a crise de refugiados e, assim, justificar a necessidade de ampliação do Conselho de Segurança.
"A multiplicação de conflitos regionais, alguns com alto potencial destrutivo, assim como a expansão do terrorismo que mata homens, mulheres e crianças, destrói patrimônio da humanidade e expulsa de suas comunidades milhões de pessoas mostram que a ONU está diante de um grande desafio", declarou.
O principal pleito do Brasil na ONU é obter um assento permanente no Conselho de Segurança, órgão com poder de decidir sobre intervenções armadas e que desde sua criação conta com apenas cinco países com poder de veto (EUA, Reino Unido, China, Rússia e França).
Com Alemanha, Índia e Japão, o Brasil compõe o G4, que defende a reforma do organismo para ampliá-lo.
Dilma afirmou que a ONU não conseguiu "o mesmo êxito" obtido na área da sustentabilidade, por exemplo, na questão da segurança coletiva, "que esteve na origem da organização e no centro de suas preocupações".
"Não se pode ter complacência com tais atos de barbárie, como aqueles perpetrados pelo chamado Estado Islâmico e por outros grupos associados. Esse quadro explica, em boa medida, a crise dos refugiados pela qual passa atualmente a humanidade", afirmou.
APLAUSOS
A presidente foi aplaudida ao reiterar que o Brasil está aberto a receber refugiados.
"Recebemos sírios, haitianos, homens e mulheres de todo o mundo, assim como abrigamos, há mais de um século, milhões de europeus, árabes e asiáticos", citou.
A plateia, composta por chefes de Estados e diplomatas dos 193 países-membros, também se manifestou quando Dilma defendeu a criação de um Estado palestino "que conviva pacífica e harmonicamente com Israel". Ela disse que "não é tolerável a expansão de assentamentos nos territórios ocupados".
Em outra passagem, foi aplaudida ao defender o fim do embargo americano a Cuba. Segundo a presidente, a América Latina "se regozija" com o restabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países, gesto "que põe fim a um contencioso derivado da Guerra Fria".
A presidente fez um discurso sucinto, ao contrário de anos anteriores, e majoritariamente dedicado a temas internacionais –as metas do país para conter a mudança do clima, anunciadas na véspera, ocuparam quase um quarto de sua fala.
Mas Dilma abordou também a situação doméstica (leia na pág. A4), admitindo falhas internas que levaram à crise atual e insistindo, à plateia de estadistas estrangeiros, que o país é uma democracia consolidada, com uma economia "sólida e resiliente".
NA INTERNET
Leia a análise de Clóvis Rossi sobre o discurso
folha.com/no1687495