Racha deixa republicanos sem liderança
Deputado Kevin McCarthy, favorito para suceder John Boehner à frente da Câmara dos EUA, desiste do posto
Renúncia de líder e dificuldade em achar sucessor explicitam divisões aparentes em campanha à Presidência
O favorito na oposição para assumir a presidência da Câmara dos Deputados dos EUA surpreendeu e desistiu a poucas horas da oficialização, explicitando a divisão interna no Partido Republicano que há meses marca a pré-campanha à Casa Branca.
O deputado Kevin McCarthy, da Califórnia, disse que abdicou do pleito ao perceber que não teria votos suficientes. "Tornou-se claro que estamos profundamente divididos e precisamos nos unificar em torno de um líder".
A Câmara busca um sucessor para o republicano John Boehner, que anunciou sua renúncia no final de setembro diante da pressão de correligionários da ala mais conservadora por uma oposição intensificada ao presidente democrata Barack Obama.
O mesmo desarranjo tem sido interpretado como motivo pelo qual nomes de fora da política tradicional ascenderam na prolongada pré-campanha presidencial.
Lideram a disputa pela candidatura republicana, a 13 meses da eleição, o magnata e apresentador de TV Donald Trump, o médico Ben Carson e a executiva Carly Fiorina. E, mesmo entre eles, o cenário está nebuloso.
Trump, que disparou nas intenções de voto envolvendo-se em sucessivas polêmicas, ainda é o mais bem colocado, mas perdeu influência entre eleitores das primárias partidárias. Ele já não mobiliza tanto a atenção nas redes sociais e deixou de ser onipresente no noticiário televisivo americano.
A distância de Trump sobre o segundo colocado diminuiu depois do debate de 16 de setembro, quando sua performance foi vista como decepcionante.
A média de pesquisas apurada pelo site Real Clear Politics mostra que Trump caiu de 30,5% das intenções de voto em 16 de setembro para 23,2% nesta terça-feira (6).
Em segundo lugar, Carson também perdeu pontos, mas menos: passou de 20% para 17,2%. Fiorina, no período, saltou de 3,3% para 10,4%.
Ainda que veja com reserva as três pré-candidaturas, o professor na Universidade Harvard Alex Keyssar diz que o bom desempenho entre o eleitorado "profundamente antigoverno" se deve a declarações polêmicas e ousadas.
Para o estrategista republicano Chris Henick, é crescente a possibilidade de alguém que não seja político de carreira se tornar o candidato oficial. "Isso tem menos a ver com partido e mais a ver com personalidades", afirma.
A ascensão do senador Bernie Sanders na disputa democrata reflete o mesmo fenômeno, diz. Com ideias socialistas e uma trajetória fora do establishment político, Sanders reduz a vantagem da favorita, Hillary Clinton.