Luiza Nagib Eluf
TENDÊNCIAS/DEBATES
Que será do Brasil?
A forma descompromissada com que o povo se comporta, como se a política nada tivesse a ver com ele, pode levar o Brasil ao inferno
Vão dizer que reclamo porque não me elegi deputada federal. Não é só isso. Manifesto-me por ter conhecido de perto algumas falhas do nosso sistema eleitoral e não ver nem população nem governantes em busca da solução necessária.
Eleição no Brasil se ganha com muito dinheiro e pouco conteúdo. Existem exceções, claro, mas elas apenas confirmam a regra. Lembremos da reeleição do Tiririca, que não sabe o que faz um deputado federal, foi lá para ver e voltou sem entender nada. O povo gosta dele, ri de suas piadas e acha que é suficiente. No entanto, para exercer um mandato legislativo útil à nação, é preciso ter conhecimento de causa.
A revolta contra certas atitudes de governantes, a insatisfação com a política e os políticos, trazida às ruas em 2013, expressada por manifestações em todo o país, não teve as consequências esperadas. Apenas incitou ao ódio e não se consolidou em propostas concretas.
Não aumentou a consciência popular sobre o voto. Não incentivou a pesquisa por bons candidatos e candidatas ao Parlamento, apenas reforçou o descrédito e fez crescer o número de abstenções, votos nulos e brancos. A alienação continua. A voz das ruas não foi às urnas.
O voto de opinião foi exercido por poucos, pelo menos para os cargos legislativos. Até um minuto antes de votar, muita gente ainda não havia escolhido seus deputados.
O Poder Legislativo é da maior importância. O escândalo do mensalão não teria existido se o povo escolhesse com mais cuidado seus representantes. Nosso sistema não permite independência total a nenhum Poder. Presidentes, governadores e prefeitos não conseguem levar seus governos a bom termo sem apoio das Câmaras e Assembleias.
No entanto, como os candidatos proporcionais são muitos e o tempo de TV é pouco e dividido de forma desigual, o eleitor se desinteressa.
Não produzimos mais estadistas, como Paulo Brossard e Goffredo da Silva Telles Júnior. Este, professor da Faculdade de Direito da USP, em 1950, quando era deputado federal e procurava lutar pela educação no país, pronunciou-se da seguinte forma: "Por que não podemos ter no Brasil um Parlamento inteiro de verdadeiros políticos, ou seja, de políticos somente voltados para o bem comum, para o bem da nação, para o bem do nosso povo?".
Comentou ele que quase todos os parlamentares que encontrara eram preocupados apenas com a imagem, prestígio político e reeleição. De lá para cá, nada mudou.
O primeiro turno desta eleição encerrou-se sem avanços republicanos e com pequena participação cidadã, depois de muitas críticas da opinião pública que resultaram em nenhum efeito prático. Demonizar a política e os políticos é inócuo. Participar é preciso. Eleger critérios e programar ações que possam aperfeiçoar o sistema eleitoral são a única forma de melhorar nossas vidas.
Está em curso uma proposta popular de reforma eleitoral, iniciativa abraçada pela OAB federal, que merece a atenção de todos. Transformar a frustração em algo edificante e produtivo --é isso que nos falta. A política não é um problema só dos políticos. A forma descompromissada com que o povo se comporta, como se a política nada tivesse a ver com ele, pode levar o Brasil ao inferno.