Paula Cesarino Costa
Que calor!
RIO DE JANEIRO - Em 1º de janeiro de 1890 nota na primeira página do jornal "O Paiz" indicava: "Enquanto aqui nos derretemos ao calor de 34?C, em Paris os ricos tiritam e os pobres morrem de frio".
O Brasil debutava na República proclamada no ano anterior e a chegada da estação mais quente açoitava os brasileiros. "Que calor!" é título que pipoca e se repete nas páginas dos jornais da época. Os adjetivos hiperbólicos se multiplicam: calor asfixiante, horrível, infernal, medonho, estafante, de cozinhar passarinho.
Como frisaria o cronista G. do "Diário de Notícias", "calor de matar de dia, de tarde, de noite".
Nas décadas seguintes do século 20 as vítimas do calor viraram notícia séria. Repetiam-se casos de "moças que se sentiam mal e caíam ao solo". Eram registrados casos de insolação na rua do Ouvidor, nas Docas e por toda a cidade. Todo ano havia mortes por calor que, em 1959, matou quatro em um só dia. Em janeiro de 1969, o "Jornal do Brasil" reportava sobre abrasantes dias em que a temperatura manteve-se acima de 40?C.
As propagandas e a indústria exploravam o tema. Surgiram loções para "assaduras e brotoejas que o calor provoca", inventou-se o bebedouro com água gelada e só nos 70, chegava por aqui o ar-condicionado.
Não é novidade o calor inclemente nos janeiros do Rio de Janeiro.
O recorde em temperatura permanece com os 43,2?C, registrados em 2012. Mas neste 2015, as noites têm permanecido quentes, sem refresco mesmo ao cair do sol, com termômetros marcando 30?C depois das 20h. Desde o o século passado, a melhor saída é fugir para as praias, lotadas de manhã, de tarde e de noite.
Como já dizia o cronista Benjamin Costallat, no "Jornal do Brasil" de 3 de janeiro de 1930, o calor tem sido um tema exploradíssimo: "Não é por falta assunto que eu digo nessa crônica: mas que calor! É que está fazendo calor mesmo".