Paula Cesarino Costa
Ao Rio
RIO DE JANEIRO - É a cidade mais cantada e mais fotografada. Suas ruas, mais do que apenas cenário, são personagens de romances, contos e crônicas. Os morros, as praias, a fauna e a flora estão em desenhos desde que os primeiros navegantes atravessaram a baía de Guanabara.
No próximo domingo, 1º de março, é dia de festa na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro --450 anos da fundação, por Estácio de Sá.
Aniversários são festas dúbias. A constatação de que o tempo passa é gangorra entre a alegria e a contrição. A celebração de fundação de uma cidade tende para a euforia, mas deve ser convite para saudar sua história e planejar seu futuro.
Que cidade o Rio quer ser daqui a 50 anos, quando completará meio milênio de existência?
Em 1965, ao atingir 400 anos, o Rio viu nascer o aterro do Flamengo, bela e transformadora obra paisagística, mas aposta equivocada na prioridade ao carro como meio de transporte e na indústria automobilística como vocação nacional.
Chega aos 450 anos em meio a muitas obras, grande parte em sentido oposto às de 50 anos atrás, privilegiando o transporte coletivo, em atrasada tentativa de redenção.
A beleza natural inquestionável é atacada por agravamento da crise habitacional, do saneamento deficiente e da falta de consciência ambiental em meio a uma riqueza cultural e à diversidade humana.
Mais do que só festa, os 450 anos têm de servir para a cidade abraçar a defesa de sua preservação e assumir metas para seu desenvolvimento, de modo mais justo e menos traumático.
Desde os tupinambás, os habitantes das margens do rio Carioca são guerreiros. E com raro e impressionante amor por sua cidade. Que esse espírito de combate se renove na luta para transformar o Rio, a mais bela das cidades, apesar de os problemas cotidianos colocarem à prova essa assertiva apaixonada.