Francisco Jordão
"Tipo aliado"
BRASÍLIA - No supermercado, na fila para pagar as compras da Páscoa, um senhor observa uma bandeja com os dizeres "tipo bacalhau" ao lado de antiga edição de uma revista que trazia na capa o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). E comenta: "Cada um engole o peixe que merece".
Cunha é um "tipo aliado" que Dilma teve que engolir. Nem esperou a Páscoa passar para impor uma série de derrotas ao governo no Congresso, derrubar o ministro da Educação e definir a agenda do que deve ou não ser votado.
No Senado, o presidente, Renan Calheiros (PMDB-AL), que também sabe encarnar como poucos o "tipo aliado", faz o mesmo.
Investigados no esquema de corrupção da Petrobras, Cunha e Renan se aproveitaram dos erros do governo, da rejeição recorde de Dilma, da articulação política capenga, da recessão econômica e da insatisfação das ruas para ganhar espaço.
O governo faz um esforço para aprovar as medidas do ajuste fiscal, mas Renan e Cunha, cada um a seu modo, têm outros interesses em mente que tiram da cartola a depender das circunstâncias.
Que tal discutir a autonomia do Banco Central, a redução no número de ministérios, a maioridade penal, o Estatuto da Família e até a quebra dos sigilos telefônicos do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para saber o que (e se) andaram conversando sobre a Lava Jato.
E tudo acontece sob o olhar contemplativo do vice Michel Temer, que por sinal preside esse simulacro de partido aliado que é o PMDB. Temer sempre reclamou de ser preterido e não participar de discussões importantes. Pois o governo foi obrigado a chamá-lo mais do que depressa para o núcleo político. E Dilma, de cara feia, engoliu mais um "tipo". Para o bem e para o mal.
Resta a dúvida sobre qual tipo de governo surgirá depois da Páscoa.