Infraero estacionada
Câmeras de ré. Sistema especial de iluminação. Visual inspirado na bandeira do Brasil e no logotipo da Infraero. A estatal caprichou na compra de 58 ônibus para 12 aeroportos brasileiros, oito meses atrás, por R$ 24,5 milhões. No caso de Congonhas, porém, negligenciou um detalhe: motoristas.
Desde então, 22 desses veículos ficaram estacionados num hangar sem uso da Vasp no aeródromo paulistano. Não se completou ainda a licitação para contratar condutores, embora já esteja homologada. Segundo a Infraero, mais dois meses transcorrerão até ativar a frota própria em Congonhas.
Os passageiros submetidos ao chamado embarque remoto (sem uso das passarelas elevadas) ainda circulam em 19 coletivos de uma empresa terceirizada. A firma contratada fornece o pacote completo: ônibus, choferes e manutenção. Fatura por mês: R$ 486.294.
Uma conta simples revela o custo desses dez meses de inoperância: pelo menos R$ 4,86 milhões. Basta multiplicar o desembolso mensal do serviço terceirizado pelo tempo em que os veículos da Infraero terão permanecido parados por falta de motoristas. Mais da metade do valor destinado à aquisição dos 22 coletivos, R$ 9,1 milhões.
Isso, evidentemente, se a empresa estatal de fato conseguir pôr os carros para rodar nos próximos 60 dias, como prevê.
Porque se pode esperar de tudo, em matéria de ineficiência, de uma administração que não é capaz de concatenar compras milionárias de equipamento com a contratação de mão de obra para utilizá-lo e o término ou suspensão do fornecimento do mesmo serviço por terceiros.
O contribuinte leigo ou desatento poderia acreditar, talvez, que a Infraero tivesse recursos para desperdiçar. Não é esse o caso, contudo. A estatal deve terminar este ano de 2015 com R$ 500 milhões de prejuízo operacional, segundo sua própria estimativa.
Quando reinava sobre os aeroportos nacionais, a Infraero era superavitária (embora os serviços fossem deficientes, para dizer o mínimo). Assim que o governo federal partiu para a concessão das operações mais rentáveis à iniciativa privada, ainda que retendo 49% do capital social das concessionárias em poder da estatal, ela passou a acumular resultados negativos.
Os 22 ônibus zero-quilômetro estacionados em Congonhas são apenas mais um exemplo de sua ineficácia. Mas que exemplo.