Alvaro Costa e Silva
Subjetividade honesta
RIO DE JANEIRO - Jornalistas sempre sonharam com a "The New Yorker". Não só para estampar sua assinatura na prestigiosa revista. Sobretudo para conseguir, no trabalho, a equação de tempo, dinheiro e generoso espaço em caracteres. Há, contudo, outra saída: escrever um –como é mesmo o nome?– livro.
Um parêntesis: não se trata de livro-reportagem, rótulo que no Brasil esconde a prática oportunista de "cozinhar" um assunto em evidência e mandá-lo para a livraria o mais rápido possível.
Acaba de sair do prelo uma aula de jornalismo: "Uma História Simples" (Bertrand Brasil), de Leila Guerriero, repórter que pratica a chamada "crônica" latino-americana e batuca nas pretinhas tão elegantemente como se veste: sempre de preto.
No livro, narra-se uma tradição dos "gaúchos" argentinos, o malambo, dança de sapateado que requer habilidade técnica e preparo físico de campeão olímpico dos 100 metros rasos. É na verdade um romance sem ficção, que registra um mundo e, no centro dele, um herói anônimo, nível de celebridade zero, pois quem ganha o festival uma vez não recebe dinheiro nem pode mais competir. Chega ao auge e sucumbe.
O que chama a atenção no relato é a maneira de olhar para a história, e contá-la com emoção, utilizando a primeira pessoa só para experiências intransferíveis. Tive o prazer de conversar com Leila Guerriero, e deixo aqui algumas de suas lições:
"Não sirvo 'fast food'. Devemos recuperar a fé nos leitores. Não confiamos mais que eles sejam inteligentes, nem que possam ler coisas de qualidade."
"O jornalismo objetivo é a grande mentira do universo, tudo é subjetivo. É feito por pessoas, não por programas de computador. O que enriquece o jornalismo é a visão que se tem dos fatos. Porém não se deve confundir visão com opinião. É necessária uma subjetividade honesta."