O Brasil em Paris
País é o primeiro grande emergente a assumir meta de queda das emissões de gases; acordo na reunião global de dezembro ainda é incerto
Os compromissos do Brasil com o combate ao aquecimento global anunciados pela presidente Dilma Rousseff (PT) em Nova York tiveram boa repercussão. Não poderia ser de outra maneira, uma vez que se manteve uma atitude mais avançada que a de outras nações, ricas e emergentes, nessa matéria.
A presidente prometeu que as emissões nacionais de gases do efeito estufa serão reduzidas em 37%, até 2025, e 43%, até 2030, em relação ao patamar de 2005. Essas substâncias, a maioria compostos com a presença de carbono (como o gás carbônico), aprisionam radiação solar na atmosfera e, com isso, contribuem para aquecê-la.
Em quase um quarto de século de negociações sobre a mudança climática, convencionou-se que seria arriscado demais deixar que a temperatura média do planeta superasse em mais de 2ºC os níveis pré-industriais (0,85ºC já se deu). Na trajetória atual, calcula-se, esse aquecimento pode ultrapassar 4ºC antes de 2100.
Em que pese a urgência do desafio, é enorme a dificuldade de concertar as iniciativas de quase duas centenas de países na direção de tal objetivo. Reuniões como a que terá lugar em Paris em dezembro, em geral, patinam sobre o terreno escorregadio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas.
Em linguagem simples, os países industrializados –os maiores poluidores em termos históricos– precisam fazer mais esforços e mais cedo que as nações em desenvolvimento, além de ajudá-las com financiamento e tecnologia. Como de hábito, foi em torno desses pontos que a Conferência de Copenhague fracassou em 2009.
A cada ano que passa, a janela para conter o efeito estufa se torna mais estreita. Os cientistas estimam que as emissões de carbono precisam cair fortemente até 2050 e chegar a zero logo depois.
Gigantes populosos como China e Índia, contudo, aceitam quando muito desacelerar a curva de crescimento de sua poluição climática. Cortes profundos, até aqui, só foram prometidos pela União Europeia. Recentemente, os EUA mudaram de atitude e assumiram metas de redução, ainda que limitadas.
Diante desse cenário, a posição assumida no domingo (27) pelo Brasil faz diferença: pela primeira vez uma grande nação emergente adota a meta de fazer reduções absolutas, com percentuais altos.
Pode-se questionar se a referência no ano de 2005 –quando as taxas de desmatamento e de emissões eram elevadas– não torna o alvo um pouco fácil demais de acertar. É indiscutível, entretanto, que um padrão se rompeu.
Não está claro se os avanços obtidos até aqui serão suficientes para destravar um acordo em Paris. Só se pode afirmar com certeza que não bastam para assegurar o limite de 2ºC e que muito trabalho haverá pela frente até 2050.