Opinião
Ex-ministro influenciou escolha de seis indicados ao Supremo
Márcio Thomaz Bastos era questionado sobre por que, sendo o principal criminalista de sua geração, um símbolo do combate à ditadura e, depois, o mais longevo ministro da Justiça desde a redemocratização, não se candidatou a integrar o Supremo Tribunal Federal. Brincando, costumava responder: "Para quê? Eu indiquei 6 dos 11 ministros do Supremo no período em que estive no governo".
Dificilmente outro ocupante do cargo terá a influência política que Thomaz Bastos teve nos quatro anos em que foi titular da Justiça no primeiro governo de Lula.
Desde antes do escândalo do mensalão, que eclodiu em 2005, o criminalista já era consultado pelo ex-presidente em todas as decisões importantes --foi ele, por exemplo, quem aconselhou Lula a voltar atrás na decisão de cancelar o visto do jornalista Larry Rohter, correspondente do "New York Times" que, em 2004, escreveu reportagem falando sobre hábitos etílicos do então presidente.
Nas vezes em que teve de escolher ministros do STF, Lula sempre pediu nomes para Thomaz Bastos. Foi ele quem indicou ou avalizou as escolhas de Eros Grau, Cezar Peluso, Carlos Ayres Britto, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e, para desespero dos petistas, Joaquim Barbosa.
Thomaz Bastos e Lula se aproximaram na época da retomada do movimento sindical no ABC paulista nos anos 70 e mantiveram sempre a boa relação. O criminalista aceitou o convite para integrar o governo Lula desde que tivesse carta branca para agir.
E assim foi: definiu a relação com a Polícia Federal, a política de segurança para os Estados e deu as cartas na relação entre governo e Justiça.
Também coube a ele formular a tese com a qual o governo se contrapôs às acusações de Roberto Jefferson no mensalão: tudo não passara de caixa dois para campanhas eleitorais. A justificativa, sete anos depois, caiu por terra quando o STF condenou a maioria dos denunciados por outros crimes e atestou a existência de dinheiro público repassado a partidos.
Se ressentia de não ter mantido o mesmo prestígio e influência sob Dilma Rousseff, de quem nunca fora próximo. A presidente não manteve o hábito de Lula de consultá-lo sobre nomeações ao STF, nem em outros setores.