PF apura se verba desviada bancou campanhas em RO
Eleição do governador Confúcio Moura em 2010 está na mira da Procuradoria
Quadrilha é suspeita de desviar R$ 57 milhões ao fraudar licitações em contratos nas áreas da saúde e da educação
Investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal apontam suposto desvio de recursos públicos para abastecer a campanha de 2010 do governador reeleito de Rondônia, Confúcio Moura (PMDB).
Com base nas apurações, foi deflagrada nesta quinta-feira (20) a Operação Plateias, que resultou na prisão de quatro suspeitos. Ao todo, foram cumpridos 193 mandados em nove Estados, no Distrito Federal e na Espanha.
Um dos mandados foi o de condução coercitiva --quando a pessoa não é presa, mas é obrigada a prestar depoimento"" do próprio governador, que negou as suspeitas após ter falado para a PF.
Segundo a vice-procuradora-geral da República, Ela Wiecko, há indícios de que o dinheiro desviado no suposto esquema abasteceu a campanha de Moura em 2010. Não se sabe se isso ocorreu também neste ano, quando ele foi reeleito.
Ela disse que existe um "sistema padrão" no Brasil "que é o ajuste de uma campanha eleitoral de políticos com empresários. O empresário dá dinheiro para o caixa eleitoral, mas com a promessa de que vai ter vantagem através de dispensa de licitação, superfaturamento e então, o dinheiro que ele adiantou volta".
"Só que, além disso, os próprios agentes públicos acabam ficando com uma porcentagem [desse dinheiro] e os empresários com um lucro a mais", disse Wiecko.
Das quatro prisões, uma foi no Distrito Federal e três foram em Rondônia, onde ao menos 20 suspeitos prestaram depoimentos.
As investigações apontam a atuação de uma quadrilha suspeita de desviar R$ 57 milhões. Os nomes dos presos, do foragido e das empresas não foram divulgados. De acordo com a PF, na Espanha, um mandado de condução coercitiva foi expedido, mas a polícia informou que o suspeito não foi encontrado.
FRAUDE EM LICITAÇÕES
Segundo a operação, cujas investigações começaram em 2012, empresas que participaram de licitações no governo de Rondônia faziam doações formais ou informais para campanhas eleitorais.
Em troca, a licitação era conduzida de forma que a vencedora fosse a empresa envolvida no esquema. A PF apurou que houve inclusive dispensa de concorrência.
Entre os contratos sob investigação, está o da contratação de vigilantes para escolas e hospitais, a construção de uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e a compra de medicamentos.
As irregularidades, segundo a polícia, envolveram oito secretarias estaduais em Rondônia, entre elas Saúde e Educação. Juntos, os contratos que estão sob suspeita somam R$ 290 milhões.
De acordo com o superintendente da PF no Estado, Carlos Manoel Gaya, os desvios foram destinados ainda para campanhas eleitorais municipais de 2012.