Ilustrada - em cima da hora
Em posse na ABL, Gullar diz que optou pelo imprevisível
Poeta e colunista da Folha ocupa cadeira de Ivan Junqueira, morto em julho; cerimônia ocorreu nesta sexta-feira no Rio
Em evento concorrido, escritor homenageou seus antecessores e agradeceu o apoio de colegas acadêmicos
Numa cerimônia concorrida, o poeta e colunista da Folha Ferreira Gullar, 84 anos, assumiu nesta sexta (5) a cadeira número 37 da ABL (Academia Brasileira de Letras), sucedendo ao poeta e tradutor Ivan Junqueira (1934-2014).
Em seu discurso, de linguagem simples e pontuado por anedotas, Gullar falou sobre o caminho que o levou à Academia e homenageou seus antecessores.
Entre os convidados estavam a atriz Fernanda Montenegro, o senador eleito José Serra (PSDB-SP) e o cartunista Ziraldo.
O evento aconteceu no salão nobre do Petit Trianon, a sede da Academia, no centro do Rio de Janeiro.
Vestindo o fardão de acadêmico, Gullar começou seu discurso agradecendo aos amigos acadêmicos que insistiram para que ele se candidatasse a uma vaga na casa, como José Sarney, Eduardo Portella, Ana Maria Machado, Cicero Sandroni e Antonio Carlos Secchin.
"Aproveito para pedir desculpas [aos acadêmicos] por tanto ter me esquivado a sua paciente generosidade", disse.
Desde a candidatura, Gullar tem sido alvo de críticas. Ele, que é conhecido pela postura transgressora, estaria traindo seu passado ao participar de uma instituição que representa a tradição.
Gullar referiu-se à guinada como coerente com suas escolhas, sempre surpreendentes.
"Pode alguém se espantar ao me ouvir dizer que posso encontrar o novo nesta casa que é o reduto próprio da tradição", afirmou. "E pode ser que esteja certo. Não obstante, como na vida, em qualquer lugar, em qualquer momento, o inesperado pode acontecer."
Seguindo a tradição, Gullar homenageou seus predecessores na cadeira 37: Alcântara Machado, Getúlio Vargas, Assis Chateaubriand, João Cabral de Melo Neto e, finalmente, o poeta Ivan Junqueira, morto em julho.
"Posso garantir-lhes que foi um grande homem de letras. Na literatura, encontrou seu verdadeiro universo", disse o novo imortal sobre Junqueira, de quem foi amigo.
Ao final de sua fala, foram cumpridos os rituais que formalizam a posse. José Sarney entregou a ele a espada, Eduardo Portella fez a aposição do colar e Ana Maria Machado lhe entregou o diploma.
Gullar foi recebido pelo acadêmico Antonio Carlos Secchin, que liderou a campanha pela eleição e discursou sobre a obra do poeta.
Secchin é crítico literário e organizou o livro "Ferreira Gullar: Poesia Completa, Teatro e Prosa" (editora Nova Aguilar), publicado em 2008.
"Em nossa poesia, Gullar é que mais se destaca numa linhagem que erotiza o corpo do mundo. Infiltra-se nessa poesia uma nota de que o homem é condenado a sua arbitrária individualidade", comentou Secchin.