Papéis da Câmara fortalecem acusação contra peemedebista
Doleiro disse que Cunha recebia propina por contrato de aluguel de navio com a Petrobras
Segundo Youssef, quando o dinheiro deixou de ser pago, Eduardo Cunha pressionou empresários
Documentos disponíveis na Câmara fortalecem acusações do doleiro Alberto Youssef contra o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), agora investigado pelo Supremo Tribunal Federal como um dos políticos suspeitos de participação no esquema de corrupção na Petrobras.
Ele afirmou à força-tarefa da Operação Lava Jato que Cunha recebia propina referente a um contrato firmado pela estatal com as empresas Mitsui e Samsung relativo ao aluguel de navio-plataforma.
O dinheiro, disse Youssef, chegava ao deputado por meio do lobista Fernando Soares, suspeito de fazer o elo do PMDB com o esquema.
Segundo o doleiro, em dado momento o suborno parou de ser pago, e Cunha escalou parlamentares do PMDB para apresentarem dois requerimentos à Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara, com o objetivo de pressionar os controladores da Mitsui.
O caso foi detalhado pelo jornal "O Globo" no domingo (8). Em julho de 2011, a ex-deputada Solange Almeida (PMDB-RJ), hoje prefeita de Rio Bonito (RJ), e o deputado Sérgio Britto (PSD-BA), então presidente da comissão, formalizaram dois pedidos.
Num deles, requeriam ao Ministério de Minas e Energia informações detalhadas sobre contratos da Petrobras com a Mitsui. Ao TCU (Tribunal de Contas da União), na outra solicitação, pleiteavam acesso a eventuais auditorias.
A justificativa do documento ao TCU diz que "contratos envolvendo a construção, operação e financiamento de plataformas e sondas celebrados com o Grupo Mitsui contém especulações de denúncias". Entre as irregularidades, citavam "improbidade, superfaturamento, juros elevados, ausência de licitação".
O texto cita o cotista Júlio Camargo, representante da Mitsui. Assim como Youssef, ele firmou um acordo de delação premiada e admitiu a participação no esquema.
Cunha, em redes sociais, questionou neste domingo por que o Ministério Público não pediu abertura de inquérito contra Solange e Britto. O presidente da Câmara afirmou ainda não ter qualquer relação com os requerimentos apresentados por eles.
"Simplesmente não fiz qualquer representação e se, por ventura, outros parlamentares fizeram, por que, então, o procurador não pediu inquérito dos outros parlamentares?", escreveu.
Desde que foi incluído no rol de investigados, Cunha diz ser vítima de orquestração entre governo e Ministério Público. Ele nega irregularidades.
Britto afirmou que Cunha não lhe pediu nada e que apenas subscreveu os requerimentos para dar força à solicitação. "Fiz isso como fiz com vários outros pedidos", disse.
Solange Almeida não respondeu às ligações da Folha.