Sob pressão, Dilma promete mudar coordenação política
Lula disse à presidente que Mercadante deveria se dedicar só ao Executivo
Reservadamente, Dilma reconhece falhas do ministro da Casa Civil nas principais negociações
Sob pressão de partidos aliados insatisfeitos com a condução do governo, a presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quarta-feira (11) que irá ampliar a articulação política de sua gestão e que integrantes de outro partidos serão chamados a atuar numa espécie de "rodízio".
"Não há nenhuma alteração na coordenação política a não ser a seguinte: nós vamos aumentar de pessoas e de partidos, obviamente, e vamos fazer um rodízio sistematicamente trazendo ministros novos para o debate", disse, após entrega de unidades do Minha Casa, Minha Vida em Rio Branco (AC).
"Vamos colocar na coordenação o ministro Kassab, o ministro Rebelo, o ministro Padilha e vamos também chamar ministros para participar da discussão", disse ela, numa referência aos titulares de Cidades, Gilberto Kassab (PSD), Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo (PCdoB), e Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB).
Em jantar no Palácio da Alvorada na noite desta terça-feira (10), Dilma ouviu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, deve se dedicar exclusivamente aos assuntos do Executivo, sem mexer na política.
Nas últimas semanas, Dilma já havia confidenciado a dois interlocutores sua decisão de afastar Mercadante das missões junto aos líderes partidários. O ministro é o principal alvo das críticas do PMDB, do PT e até de colegas do Palácio do Planalto. O movimento foi antecipado pela coluna Mônica Bergamo desta quarta-feira.
O encontro no Alvorada, na terça-feira, ocorreu em duas etapas. Na primeira, Dilma e Lula conversaram a sós. Depois, a reunião incluiu Mercadante, Jaques Wagner (Defesa), Miguel Rossetto (Secretaria-Geral) e Rui Falcão, presidente do PT.
A todos, o ex-presidente da República defendeu que o PMDB fosse, de fato, integrado ao núcleo duro do governo, com assento nas decisões políticas mais importantes. Só isso, avaliou, poderá conter minimamente a rebelião no partido que ameaça a governabilidade e, por consequência, a aprovação das medidas do pacote fiscal.
Mercadante ponderou no encontro que é o ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais), e não ele, o responsável pela interlocução junto ao Legislativo. Mas Vargas, apesar da lembrança do colega, sequer fora chamado para o jantar.
Questionado sobre a possibilidade de Mercadante deixar a articulação política, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), rebateu com outra pergunta: "Mercadante está na articulação política? Não sabia", disse.
Em conversas reservadas, Dilma tem reconhecido os problemas de sua equipe política. Segundo relatos, ela passou a observar falhas de Mercadante nas principais negociações e estratégias que liderou neste início de mandato.
Apesar dos reparos à atuação do auxiliar, Dilma não manifestou nenhuma intenção de retirá-lo da Casa Civil.
A discussão sobre mudanças na cúpula do Planalto surpreende pelo caráter prematuro. A saída de Pepe Vargas é dada como certa. Cotados para seu lugar estão Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e Eliseu Padilha. Nesse desenho, Dilma manteria Vinícius Lage no Turismo, indicado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Outra forma de amainar o apetite do PMDB é dar a pasta da Integração Nacional, para fortalecer a atuação da ala nordestina do partido antes das eleições municipais.
Mesmo atuando na Defesa, Jaques Wagner seria usado como uma espécie de articulador de elite, entrando em negociações pontuais, sobretudo no Senado. (JOSÉ MARQUES, NATUZA NERY, VALDO CRUZ, ANDRÉIA SADI E MÁRCIO FALCÃO)