Procuradores tentam escapar de briga política
Senadores já falam em impedir a eventual recondução de Janot à chefia da Procuradoria
Criticados por parlamentares, procuradores que atuam na Lava Jato tentam trabalhar sem se deixar contaminar com o ambiente de briga política instaurado nos últimos dias entre o Congresso e o Ministério Público Federal.
Nos bastidores, senadores já falam em impedir uma eventual recondução ao cargo do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acusado de agir a mando do Planalto pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e por outros parlamentares investigados pela Operação Lava Jato.
No momento, a ordem é seguir com as investigações como se o mandato de Janot não acabasse em setembro. De acordo com um dos integrantes, o tema da recondução nem sequer é discutido nas reuniões de trabalho.
Procuradores avaliam que a apresentação de um bom trabalho no caso da Lava Jato levaria a categoria, de forma natural, a indicar novamente o nome de Janot na lista tríplice enviada à presidente Dilma Rousseff para o processo de sucessão.
Nesse cenário, e caso Dilma reenvie o nome de Janot para aprovação do Senado, procuradores ouvidos pela reportagem dizem que uma eventual recusa pelos senadores poderia até retardar o andamento dos processos por um curto tempo, mas não interromperia as investigações nem seria uma mácula para carreira de Janot.
À Folha, um dos procuradores disse que ser barrado pelo Senado por vingança política representaria muito mais uma coroação ao trabalho do procurador na Lava Jato do que uma reprimenda.
Na tentativa de não se deixar contaminar pela briga política, o grupo de trabalho, formando por pelo menos 11 integrantes, entre procuradores da República e promotores de Justiça, seguirá voltado exclusivamente para os inquéritos que investigam o desvio de recursos da Petrobras.
Os procuradores têm dito que os inquéritos irão avançar de forma autônoma. Ou seja, casos mais simples devem ter suas denúncias enviadas ao Supremo Tribunal Federal nos próximos meses. A expectativa é de que as primeiras denúncias envolvam os congressistas do PP.
Já os casos mais complexos, como o inquérito que envolve 39 pessoas, entre as quais Calheiros, deve seguir por alguns anos até que a denúncia seja apresentada.