Planalto diz esperar imparcialidade do comando da Câmara
Nota divulgada pelo governo afirma que decisão de Cunha de romper com o governo é 'estritamente pessoal'
Equipe da presidente foi orientada a não responder aos ataques do peemedebista para evitar clima de embate
Preocupado com as retaliações que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), poderá promover nos próximos meses, o Planalto deflagrou uma operação para exigir que ele mantenha uma postura de independência no comando da Casa ainda que tenha se afirmado pessoalmente como parte da oposição.
Logo após a oficialização de seu rompimento com o governo, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República afirmou em nota que o governo espera que a postura "não se reflita nas decisões e nas ações" da presidência da Casa, que "devem ser pautadas pela imparcialidade e pela impessoalidade".
"O presidente da Câmara anunciou uma posição de cunho estritamente pessoal", afirma o texto.
O Palácio do Planalto ressalta que tem atuado com "total isenção" em relação às investigações da Operação Lava Jato e que só intervém quando "há indícios de abuso ou desvio de poder".
Antes de divulgar a nota, a equipe de Dilma já havia sido orientada pela presidente a "não responder às provocações" do peemedebista para evitar um clima de embate, que iria fortalecer a estratégia do peemedebista de declarar guerra ao Planalto.
Entre assessores, o comentário era que o governo terá tempo, durante o recesso parlamentar, que vai até o final de julho, para tentar montar uma estratégia destinada a evitar que Cunha conquiste mais apoios na base aliada.
Nos bastidores, assessores presidenciais também lembravam que Cunha anunciou um rompimento com o governo federal sem nunca ter sido, de fato, um aliado.
A expectativa do Palácio do Planalto é que a radicalização do peemedebista acabe o levando para um isolamento, ao não conquistar o apoio de outros grupos.
Apesar de anunciar seu rompimento, Cunha afirmou em entrevista a jornalistas que não prejudicará o governo em suas ações à frente da Casa. "Teremos a seriedade que o cargo ocupa. Porém, o presidente da Câmara é oposição ao governo", disse.
PARCERIA
Líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS) disse que a decisão de Cunha é pessoal e não deve influenciar nas votações.
Já o líder na Câmara, José Guimarães (PT-CE), reafirmou a parceria do Planalto com o PMDB e disse que a sigla exerce um papel fundamental, principalmente agora que faz a coordenação política, conduzida pelo vice-presidente Michel Temer.
Nos bastidores, porém, a avaliação é a de que o governo deve tentar "afastar" a crise do Legislativo e não entrar no jogo de Cunha.
A análise de políticos tanto da base aliada quanto da oposição é que Cunha pode perder o apoio de seus seguidores na Câmara e que o cenário pode se reverter em favor do governo. Para esse grupo, o tom adotado por Cunha foi desnecessário.