Cerveró usou cargo para favorecer 'grupo político', diz Procuradoria
Investigação atribui ao PMDB a indicação do ex-diretor para a área Internacional da Petrobras
Órgão pede condenação de ex-executivo e de outros três acusados de distribuir propina de US$ 40 milhões
Em documento enviado nesta quinta (23) à Justiça, o Ministério Público Federal pediu a condenação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, preso sob suspeita de ter participado de desvios na estatal, e o acusou de agir para "beneficiar o grupo político que o indicou ao cargo".
"Tal como nas crônicas de Rudyard Kipling [escritor britânico, 1865-1936], não existia almoço grátis na diretoria internacional da estatal", afirmam os procuradores, em referência ao suposto pagamento de propina a Cerveró.
Os investigadores da Operação Lava Jato atribuem ao PMDB a indicação do ex-diretor à área Internacional da Petrobras. Ele e o operador Fernando Soares –conhecido como Baiano– teriam atuado para beneficiar políticos do partido. Os dois negam participação no esquema.
Para os procuradores, Cerveró agiu "não só por ganância, mas também pela indicação política" que o levou ao cargo. Tinha, segundo o documento, "amizade íntima" com Baiano –que era movido por "motivos puramente egoísticos e tinha uma personalidade desprovida de qualquer reserva".
Os comentários constam das alegações finais de processo em que os dois são réus.
A Procuradoria pediu a condenação deles, do lobista Julio Camargo e do doleiro Alberto Youssef, delatores do esquema, por corrupção e lavagem de dinheiro.
Os quatro são acusados de distribuir propina de US$ 40 milhões, negociada em troca da contratação de dois navios-sonda pela Petrobras, entre 2006 e 2007.
PRESSÃO
A Procuradoria também faz referência às "pressões" sofridas por Julio Camargo, citadas em depoimento do lobista prestado na semana passada à Justiça.
Camargo acusou Baiano de agir em nome do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e de o ameaçar caso ele não pagasse a propina do contrato.
"Ele [Baiano] me disse: 'Julio, realmente, nós estamos com problema, porque eu estou sendo pressionado violentamente, inclusive pelo deputado Eduardo Cunha. E isso aí vai chegar numa situação muito embaraçosa pra mim, mas pra você, com certeza, vai ser muito mais embaraçosa'", relatou Camargo em seu depoimento.
Cunha nega as suspeitas, afirma que o delator mente e aponta manobra do Planalto para atingi-lo.
O peemedebista pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) que o processo seja movido para a corte, porque ele é citado e tem foro privilegiado.
O presidente do Supremo, ministro Ricardo Lewandowski, pediu ao juiz Sergio Moro, da Vara Federal em Curitiba, que se manifeste sobre o pedido em até dez dias.