Brasil consegue baixar juros da compra de caças
Após negociação com autoridades da Suécia, taxa para financiamento de 36 aeronaves caiu para 2,19% ao ano
Redução representa uma economia de cerca R$ 600 milhões no negócio acertado em 2014 por US$ 5,4 bi
Os governos do Brasil e da Suécia chegaram a um acordo sobre a taxa de juros do financiamento da compra dos 36 caças Gripen NG para a FAB (Força Aérea Brasileira).Com isso, o caminho está aberto para o fechamento do negócio, o que deve ocorrer em dez dias.
Segundo o Ministério da Defesa, os suecos aceitaram cobrar juros anuais de 2,19% no financiamento oferecido pela SEK (agência de promoção de exportações do país escandinavo), como o Brasil queria nas negociações. A última reunião ocorreu nesta quarta (29), em Brasília.
O negócio foi acertado em 2014 por US$ 5,4 bilhões (cerca de R$ 18 bilhões hoje), mas o valor deve cair porque a moeda utilizada é a coroa sueca, que perdeu valor. O pagamento do financiamento só começa em oito anos e meio e deve durar 15 anos.
Estocolmo queria 2,54% de juros, valor da taxa em outubro de 2014, quando foi assinada a compra –a escolha do Gripen, fabricado pela Saab, ocorreu em dezembro de 2013 após 12 anos de negociações.
Só que a taxa, ditada aos países integrantes da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, como a Suécia, flutua. Agora, está em 2,19%. Os suecos alegavam que não poderiam baixar a taxa sob pena de ter outros clientes atrás de revisões semelhantes, e 60% do PIB do país vem das exportações.
Dentro do tamanho do contrato, a diferença é pequena: US$ 180 milhões (R$ 600 milhões nesta quarta-feira, 29), mas a equipe econômica brasileira insistiu em ter algum argumento político de que buscou o melhor negócio.
O ministro da Defesa, Jaques Wagner, afirmou que o acordo foi "um excelente negócio para as duas partes", e que não faria sentido pagar a taxa mais alta.
Ele disse que, ao fim, os suecos abriram mão de uma compensação pelo valor que perderão com a mudança nas taxas. "Acordamos, ao final, que não haverá compensação", disse ele. A presidente Dilma Rousseff e o ministro Joaquim Levy (Fazenda) avalizaram o acerto.
Procurada, a SEK informou que não faria comentários.
A compra dos caças, apesar da crise econômica, não esteve sob risco. A possibilidade era aventada por executivos suecos.
Se houvesse revés, o desgaste internacional para o Planalto seria muito grande, já que as tratativas para a aquisição e transferência de tecnologia estão adiantadas.
Também haveria uma péssima reação na FAB (Força Aérea Brasileira), que esperou 12 anos pela decisão.
Pilotos brasileiros treinam com o Gripen na Suécia, e a Saab já está trabalhando com a Embraer e outras empresas para capacitar a indústria nacional a fornecer peças e, no futuro, montar o caça. O último lote de aeronaves deverá sair, até 2024, da fábrica da Embraer. Os primeiros caças, se o cronograma for mantido, chegarão em 2019.
Havia a expectativa do aluguel temporário de modelos anteriores do Gripen, para adaptação dos pilotos brasileiros e para melhorar a defesa do espaço do Brasil central, hoje nas mãos de antigos caças F-5 modernizados. A crise praticamente enterrou essa possibilidade.