Temer diz que alguém precisa unir o país
Vice-presidente reconhece gravidade da crise e apela a partidos aliados para evitar que situação fique 'desagradável'
Levy defende diálogo com o Congresso para garantir a recuperação da economia e diz que 'ninguém quer ruptura'
Um dia após o governo sofrer nova derrota na Câmara dos Deputados, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) reconheceu a gravidade da crise política e econômica e apelou aos partidos da base do governo para que se dediquem a resolver os problemas.
Após passar a quarta-feira (5) reunido com líderes de partidos governistas e ministros da presidente Dilma Rousseff, Temer fugiu ao tom ameno que costuma adotar e reagiu à aprovação de medidas com impacto fiscal pela Câmara dos Deputados.
A mensagem foi repetida por outros integrantes do primeiro escalão, inclusive os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e do Planejamento, Nelson Barbosa.
Aparentando nervosismo após a reunião com os deputados, Temer disse que é preciso que "alguém tenha a capacidade de reunificar a todos", para evitar que "uma crise desagradável para o país".
"Não vamos ignorar que a situação é razoavelmente grave, não tenho dúvida que é grave, e é grave porque há uma crise política se ensaiando, há uma crise econômica que está precisando ser ajustada mas, para tanto, é preciso contar com o Congresso", afirmou o vice-presidente.
Temer quis dividir a responsabilidade da crise com o Legislativo e mostrar que o governo está tentando de tudo, mas chegou a um ponto em que é preciso contar com outros setores e instituições.
Apesar dos esforços para unir a base, que contou inclusive com um jantar oferecido pela presidente na segunda no Palácio da Alvorada, o fim do recesso parlamentar trouxe um cenário sombrio. Na terça (4), a Câmara decidiu que não adiaria a votação da proposta de emenda constitucional que equipara salários da Advocacia-Geral da União e de delegados aos do Judiciário, aumentando as despesas do governo federal.
Para avaliar o impacto da derrota e discutir as próximas votações, Temer reuniu-se com senadores governistas e terminou com os parlamentares prometendo adotar uma postura diferente da tomada pela Câmara dos Deputados.
Mas o clima da reunião com os líderes da Câmara, na sequência, foi "péssimo", segundo um interlocutor de Temer. Os deputados disseram não ter controle sobre suas bancadas, insatisfeitas com a divisão de cargos no governo federal e a demora na liberação de recursos para projetos em seus bases eleitorais.
'RUPTURA'
O ministro Joaquim Levy disse que o governo assumiu o custo da perda de popularidade ao promover o ajuste fiscal e cobrou a participação de Congresso e da sociedade na discussão sobre as medidas.
"A presidente Dilma assumiu esse risco sem temor", afirmou, durante evento do Banco Central. "É necessária a participação de todos porque isso diminui o peso que cada um terá que contribuir."
Levy disse que "ninguém quer ruptura em nenhum aspecto" e que é preciso dialogar com o Congresso "para garantir a recuperação econômica". A crescente tensão entre o governo e o Congresso fez a cotação do dólar fechar em R$ 3,49 nesta quarta, maior patamar em 12 anos.
Durante audiência na Câmara, o ministro Aloizio Mercadante fez acenos à oposição. Ele reconheceu erros do governo e propôs um "acordo suprapartidário" para assuntos como o ajuste fiscal.
Lembrando êxitos que governos do PSDB tiveram no combate à inflação, o ministro defendeu a "responsabilidade compartilhada" pelas mudanças que o governo tenta fazer. "Podemos ser mais parceiros em questões que são tarefas de Estado", disse.