Análise
Ministro perde de novo, e vice se afasta ainda mais de Dilma
A confusão desta terça, a enésima na crise político-econômica de 2015, pode ser resumida numa sentença dupla: Joaquim Levy encarnou mais uma derrota anunciada do governo Dilma Rousseff, e Michel Temer deu mais um passo para longe de sua chefe.
Depois do imbróglio da tentativa frustrada de recriar a CPMF e de ter de recuar de seu Orçamento "sincero" e deficitário, o governo se vê novamente enrolado para desfazer o mal-estar de uma proposta para tentar achar uma saída para a crise.
Desta vez, o próprio ministro da Fazenda vocalizou uma das discussões em curso no governo, a do aumento no Imposto de Renda como fonte robusta de arrecadação.
Se foi por ingenuidade, autoconfiança ou sinceridade inspirada por ares europeus não se sabe, mas o ministro falou o nome do Tinhoso dentro da igreja na hora da missa.
Empresário nenhum quer ouvir falar em aumento de imposto, ainda que ele seja considerado inevitável dentro do plano para entregar ao mercado uma meta fiscal factível.
Politicamente, a situação é muito delicada para Dilma, já que o apoio que o governo ainda tem no empresariado é um dos últimos esteios de sustentação de sua gestão. Tanto é assim que recuou do Orçamento deficitário após ser pressionada diretamente por chefões do PIB.
O vice, por sua vez, também se viu obrigado a modular o discurso após ouvir empresários e os dois capitães do Congresso, os peemedebistas Eduardo Cunha (Câmara) e Renan Calheiros (Senado).
Temer havia começado o dia se preparando para levar para o jantar com governadores e líderes do PMDB a proposta de aumento da Cide só para, após conversar com Dilma, dar declarações nas quais antagonizou a chefe.
Na segunda-feira (7), Dilma falara em "remédios amargos" para a crise; Temer rechaçou o uso dos mesmos, usando exatamente as mesmas palavras. Simbolismo é tudo em política.
O que está em curso é um cabo de guerra múltiplo. Todos sabem que sem aumento de imposto e cortes não existe como o governo fazer superávit fiscal no que vem; a dosagem e os limites de cada coisa são objeto da disputa.