Ministro faz críticas públicas ao pacote
Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) disse que faltou negociação e regras foram desestabilizadas
Em reunião na Casa Civil nesta quarta, governo prometeu a entidades patronais discutir mudanças
Pressionado pelo setor privado e aborrecido por não ter sido consultado, o ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, voltou a fazer críticas públicas ao ajuste fiscal proposto pelo governo.
Ao sair de uma reunião com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, Monteiro disse que as medidas poderiam ter sido "negociadas" e que a redução de benefícios a exportadores é um "mau sinal" (veja as medidas que afetam empresas no quadro abaixo).
Segundo a Folha apurou, Monteiro não reclamou diretamente com a presidente Dilma, mas preferiu deixar clara sua posição. O ministro, que costumava ser chamado para as principais discussões de política econômica, não foi ouvido sobre o pacote.
Em missão empresarial ao Paraguai na semana passada, ele passou o fim de semana no Recife e só soube das propostas quando chegou a Brasília, na segunda à tarde, pouco antes do anúncio.
PRESSÃO E DESÂNIMO
Insatisfeitos, os empresários reclamaram diretamente com o ministro e seus principais auxiliares. O clima no ministério é de desânimo, principalmente porque a retirada do Reintegra atinge diretamente a "menina dos olhos" da pasta: o Plano Nacional de Exportações.
"É muito importante a previsibilidade das regras. Na medida em que se desestabiliza a regra, isso afeta o calculo econômico do exportador, e o setor já havia dado uma contribuição quando negociou a redução de 3% para 1%", disse o ministro.
O plano de exportações previa retomada gradual do programa que devolve aos exportadores percentual de seu faturamento como compensação por impostos indiretos cobrados na cadeia de produção. As alíquotas seriam 1% em 2015 e 2016, 2% em 2017 e 3% em 2018.
Monteiro já havia tido embates com Levy, que queria cortar o programa, depois garantido pela própria presidente. Com o pacote, Monteiro sofreu um revés –a proposta prevê alíquota de 0,1% neste ano e no próximo.
O ministro também reclamou da falta de negociação sobre a destinação de parte dos recursos destinados ao Sistema S (que reúne entidades como Sesc, Senai e Sebrae) para a Previdência.
"Haveria disposição se o modelo fosse negociado." Enfurecidos por não terem sido ouvidos, dirigentes de confederações e federações empresariais se reuniram com o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) e receberam a promessa de rediscussão da medida. Nova reunião foi agendada para terça (22).
Monteiro acompanhou o encontro. A Folha apurou que não está nos planos do ministro deixar o cargo. (RAQUEL LANDIM, VALDO CRUZ E FÁBIO MONTEIRO)