Roteiristas de séries tentam renegociar contratos e podem entrar em greve

JAKE COYLE
DA ASSOCIATED PRESS

A chamada "Peak TV" (atual "época de ouro da televisão") e o aumento da produção de séries têm sido ótimos para os espectadores, mas não tanto para os escritores, dizem os roteiristas de Hollywood.

Na segunda-feira (10), o Writers Guild of America (sindicato dos roteiristas dos EUA) retomará as negociações por um novo contrato com a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP, na sigla em inglês), que representa redes de transmissão a cabo e estúdios de cinema.

Com o sindicato dos roteiristas se mobilizando para autorizar uma greve, Hollywood espera evitar uma paralisação como a de cem dias que ocorreu em 2007.

Várias questões estão em jogo, mas o ponto mais proeminente do debate gira em torno da natureza mutável do panorama televisivo.

Que há mais séries do que nunca –455 nesta temporada, mais do que o dobro de seis anos atrás– pode parecer uma vantagem para os escritores de TV. Mas esses novos programas têm menos episódios do que as séries tradicionais de 22-24 capítulos. Curtas temporadas de 8, 10 ou 12 episódios significam salários menores para os escritores, cujo pagamento é estruturado em uma base por episódio.

"Hoje em dia, dois terços de todos os programas são produzidos com menos episódios, mas ainda somos pagos por capítulos", diz Chris Keyser, escritor veterano e co-presidente do comitê de negociação do sindicato.

"Eu, por exemplo, tenho um programa na Amazon. E vou trabalhar por quase um ano, mesmo tempo que eu trabalhava antes, mas por oito episódios. Então estou trabalhando por uma fração do valor do que eu costumava ganhar, mesmo que as empresas estejam lucrando o dobro do que elas lucravam –e eu não estou sozinho. "

Na segunda-feira, começará uma nova rodada de negociações que deve durar cinco dias, depois que as duas primeiras semanas terminaram em um impasse e uma oferta rejeitada pelo sindicato. O comitê de negociação do recomendou um voto de autorização de greve. Se não houver acordo, os membros do conselho vão decidir se darão aos negociadores a autorização para entrar em greve em 19 de abril. O atual contrato de três anos expira em 1º de maio.

Muitos duvidam que as negociações terminem em uma greve: os dois lados chegaram a um acordo em 2010 e 2013. A paralisação de 2007 provocou perdas estimadas em US$ 2 bilhões à economia de Los Angeles.

No entanto os roteiristas, que sofreram queda salarial durante a última década, são encorajados a recuperar algumas de suas perdas.

"Uma das coisas mais importantes que aprendemos de 2007-2008 é que você não tem nada sem lutar por isso", diz Keyser. "Não tínhamos nossos créditos, nossos planos de pensão e de saúde ou a nossa jurisdição sobre os novos meios de comunicação, sem dizer que estávamos dispostos a lutar por essas coisas. Essa é a resolução que trazemos para esta negociação. "

No entanto, Keyser, ex-presidente do sindicato dos roteiristas, diz que está "esperançoso" por um acordo. "Há bastante espaço para que as empresas façam uma mudança aqui", diz ele, alegando que coletivamente tiveram lucro recorde de US$ 51 bilhões no ano passado. "Eles certamente podem dar ao luxo de fazê-lo."

A aliança dos produtores, que representa cerca de 350 empresas, afirmou em um comunicado que "o nosso objetivo continua a ser chegar a um acordo com o sindicato. Esperamos que eles entrem em contato conosco sobre as questões nesse fórum quando as negociações retomarem no dia 10 de abril. "

Outros pontos de barganha significativos envolvem o plano de saúde dos roteiristas, taxas de roteiro e resíduos em plataformas de cabo e streaming. De acordo com o sindicato –que tem cerca de 20 mil membros–, os ganho médio dos escritores caiu entre a temporada 2013-14 e 2015-16, e eles estão cada vez mais encontrando dificuldades para ganhar a vida, mesmo em tempos supostamente bons.

Em Hollywood, como em muitas outras indústrias, a mudança tecnológica muitas vezes conduz as negociações trabalhistas. Os escritores entraram em greve em 1985 contra o mercado de fitas de vídeo, e mais tarde se sentiram injustamente deixados de fora quando as receitas de DVD subiram na década de 1990. A greve de 2007 foi principalmente sobre a compensação por direitos digitais.

De certa forma, essas negociações, impulsionadas pelo panorama televisivo atual, são mais diretas e deixam menos margem à especulação. Os produtores em 1985 argumentaram que as fitas de vídeo eram uma tecnologia nascente e, em 2007, disseram que o reino digital era muito jovem para ser compreendido. A "Peak TV", no entanto, já está aqui e ninguém duvida de seu efeito sobre a indústria.

Se a greve dos roteiristas estourar, ela irá se juntar à de outro sindicato de Hollywood: os atores que dão voz aos personagens de games, que fazem parte do sindicato SAG-AFTRA, e estão em greve desde outubro de 2016, sem nenhuma resolução à vista.

Um dos principais pontos é a exigência do sindicato de que os artistas que trabalham em jogos que vendem mais de dois milhões de unidades recebam uma compensação adicional. Os pagamentos só afetariam certos estúdios que têm contratos com a SAG-AFTRA, incluindo os principais editores de jogos: Activision, Electronic Arts e WB Games. As empresas insistem que a proposta é insustentável, mas dizem ter oferecido aumentos que são financeiramente iguais ao que o sindicato está buscando.

Quanto aos escritores, um outro sindicato de Hollywood poderia oferecer um modelo de acordo aos roteiristas, como aconteceu no passado. Em janeiro, o Directors Guild of America (sindicato dos diretores) ratificou um novo contrato que mais do que triplicou os pagamentos secundários para os membros que trabalham para "vídeo de alta disponibilidade sob demanda" –serviços como Netflix, Amazon e Hulu. Agora é a vez dos escritores tentarem se manter em um ambiente televisivo em constante expansão.

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