Disney afaga mexicanos com trama piegas, mas criativa

GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO

VIVA: A VIDA É UMA FESTA (muito bom) * * * *
(COCO)
DIREÇÃO Lee Unkrich e Adrian Molina
VOZES DE Anthony Gonzalez, Gael García Bernal e Benjamin Bratt
PRODUÇÃO EUA, 2017, livre
QUANDO estreia nesta quinta (4)
Veja salas e horários de exibição.

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Em 1998, a Pixar lançou "Vida de Inseto", filme em que os vilões eram gafanhotos preguiçosos que viviam no deserto ao som de "La Cucaracha", esperando a hora de se aproveitar dos proventos das formiguinhas trabalhadoras. Só não via ali uma alfinetada nos mexicanos quem não queria.

Eis que 20 anos depois, com "Viva: A Vida É uma Festa", a mesma Pixar (agora propriedade da Disney) tem sido saudada por dar ao México o espaço que merece: como o filme se passa naquele país, o elenco de dubladores é composto por latinos, a começar por Gael García Bernal, e o filme se esforça por tratar da cultura local sem colonialismo.

Isso não é exatamente uma bondade por parte do (cada vez maior) império do Mickey, que tem ensaiado aqui e acolá alguns acenos a minorias; é sobrevivência. Com um mercado cada vez mais dependente de bilheterias estrangeiras, os estúdios precisam ser menos americanizados.

Seja como for, "Viva" merece ser elogiado por razões que vão além do agrado aos mexicanos. Com ele, a Disney mergulha no tema que, de uma forma ou de outra, ela arranha em todos os seus filmes: a morte. E se sai bem, com uma abordagem palatável e sensível do fim da vida.

Miguel é um garoto que aspira se tornar um músico, mas enfrenta resistência dentro de casa. Como décadas atrás o seu tataravô abandonou a família para seguir essa carreira, música é assunto proibido. No Dia dos Mortos, contudo, o menino ingressa no mundo dos defuntos para sair no encalço de seu ancestral.

trailer

Há aqui a brecha para que a animação se empanturre dos clichês da cultura mexicana: além das caveiras, há Frida Kahlo, casinhas coloridas de Guanajuato e, o mais interessante, um pedágio que traz a inevitável lembrança da fronteira com os Estados Unidos.

Embora no mundo dos mortos a trama siga para um desfecho até que previsível, é dele que o filme extrai a sua ideia mais tocante: a de que embora os mortos do filme estejam bem vivinhos, eles sumirão para sempre caso um parente vivo se esqueça deles.

É motivacional, piegas até, mas ao menos rompe a pasmaceira criativa que acometeu a Pixar nos pouco inspirados "Carros", "Procurando Dory" e no enésimo "Toy Story".

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