A FORMA DA ÁGUA * *
(THE SHAPE OF WATER)
DIREÇÃO Guillermo Del Toro
ELENCO Sally Hawkins, Richard Jenkins, Octavia Spencer
PRODUÇÃO EUA, 2017, 16 anos
QUANDO estreia nesta quinta (1º)
Qual a forma da água? Normalmente se diz que ela toma a forma do recipiente. No caso de "A Forma da Água", o filme, a morfologia é complexa: lá estão "A Bela e a Fera", segundo Jean Cocteau, "O Monstro da Lagoa Negra" (1954), em versão reciclada, e musicais dos anos 30/40.
Tudo misturado produz um filme em que o aspecto mais saliente é a cenografia, que lembra "Metropólis", embalado em uma fantasia romântica que não assusta ninguém, mas leva o carimbo "arte", que dá aquela mão na roda para concorrer ao Oscar (no caso, concorre de verdade).
Guillermo del Toro vai no rastro de "La La Land" ao trabalhar sobre a história do monstro capturado pelos americanos por volta de 1960. Querem achar algum segredo contido nele, ou, na pior das hipóteses, matá-lo. Do outro lado estão os russos, com intenções em geral idênticas.
No meio fica a faxineira Elisa Esposito (Sally Hawkins). Com a cumplicidade de outra faxineira, Zelda (Octavia Spencer), ela se aproxima do monstro preso num laboratório secreto de outro modo que não por choques ou torturas.
Uma latina, uma negra e um monstro que revela ter coração de ouro. As condições para o Oscar estão satisfeitas. Ser Del Toro mexicano não atrapalha (desde que não resolva assediar alguém). O Oscar deste ano anuncia-se étnico por excelência.
O ponto é: no que resulta essa mistura de evocações?
Vamos ao melhor ponto: a criatura pertence à água, enquanto Elisa é uma deslocada na terra. Uma ninguém, como se encarregam de significar os poderosos do laboratório.
Eis a identificação entre ambos que será acentuada na talvez melhor cena: aquela em que Elisa está num ônibus, sob chuva, e vê pingos de água se juntarem na janela.
É disso que vive "A Forma da Água": desses sobressaltos em que algo de realmente fantasioso ocorre.
Fora isso, estamos mergulhados nessa estética tão Del Toro, que lembra tão infelizmente o Terry Gilliam de "Brazil", numa história em que o vilão parece saído de um filme de super-herói (é tão vilanesco quanto). E os heróis envolvem-se numa fantasia romântica cujo mérito principal é que, por princípio, ninguém precisa sequer crer no que vê, só envolver-se.
Ninguém se surpreenda se este filme bastante limitado levar alguns Oscars e o formidável "Corra!" fizer figuração: é assim que funciona.
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